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O Judaísmo não é apenas uma religião. É uma civilização que atravessou milênios de perseguições, reformas, rupturas e reinvenções. Nascido no coração do antigo Oriente Próximo, moldado por mitos mesopotâmicos, simbolismos egípcios, resistências cananeias e influências persas e gregas, o Judaísmo é uma das formas religiosas mais duradouras e complexas da história humana.
É também o berço de duas das maiores religiões do planeta: o Cristianismo e o Islamismo. Mas para entendê-lo, precisamos ir além das definições simplistas. O Judaísmo não se resume a um “monoteísmo puro”, nem a um livro sagrado ou um conjunto de regras. Ele é um diálogo milenar entre um povo e o divino, entre a Lei e a dúvida, entre a Terra e a Palavra.
No coração do Judaísmo está a Torah (os cinco primeiros livros atribuídos a Moisés), mas o cânon judaico é muito mais amplo:
Tanakh: acrônimo para Torah (Lei), Nevi’im (Profetas) e Ketuvim (Escritos). É a Bíblia Hebraica.
Talmud: vasto compêndio de interpretações orais da Torah, reunidas ao longo de séculos. Há dois principais: o Talmud de Jerusalém e o da Babilônia.
A textualidade é central. O estudo, a discussão e o debate são formas de espiritualidade. Deus é tanto um legislador quanto um enigma. A Lei é sagrada, mas também interpretável. O judaísmo nunca foi uma religião de dogmas imutáveis, mas de tradições em disputa.
O Judaísmo emerge entre os séculos XIII e X a.C., em meio às transições do mundo cananeu. Seus mitos fundadores remontam a:
Abraão: o primeiro patriarca, que faz um pacto com Deus em troca de uma terra e uma descendência.
Moisés: libertador do Egito e receptor da Lei no Sinai.
Reis Davi e Salomão: organizadores do primeiro Templo em Jerusalém.
Mas é importante reconhecer que esses relatos são simbólicos. A arqueologia e a historiografia questionam sua literalidade. Ainda assim, esses mitos moldaram a identidade judaica como povo eleito, peregrino e guardião de um pacto moral com o divino.
O primeiro grande trauma do Judaísmo foi a destruição do Templo pelos babilônios (586 a.C.). O segundo, pelos romanos (70 d.C.). Sem templo e sem sacrifícios, o Judaísmo transformou-se:
De uma religião sacerdotal para uma religião textual e comunitária.
O rabino substitui o sacerdote; o estudo substitui o altar.
Essa transição marca o nascimento do Judaísmo rabínico, que é o Judaísmo tal como o conhecemos hoje.
Fariseus, saduceus, essênios: grupos da época do Segundo Templo com diferentes visões teológicas.
Judaísmo rabínico: dominante após o século II.
Correntes medievais: racionalistas como Maimônides x místicos da Cabala.
Correntes modernas: judaísmo ortodoxo, conservador, reformista e reconstruçionista.
Além disso, há diversidade étnica:
Ashkenazi (Europa Central e Oriental)
Sephardita (Espanha, Portugal, Norte da África)
Mizrahim (Oriente Médio)
Os rituais do Candomblé envolvem dança, canto, percussão, oferendas e incorporação dos orixás.
O orixá “monta” o corpo do iniciado, que dança e age sob sua influência.
Não se trata de possessão maligna, mas de mistério sagrado e comunhão espiritual.
Oferendas de comidas e animais são realizadas para alimentar o axé e equilibrar forças.
Todos os rituais são realizados com profundo respeito à vida, e os animais são preparados e consumidos em refeições sagradas.
Durante séculos, o Candomblé foi criminalizado, perseguido e ridicularizado. Para sobreviver, seus praticantes sincretizaram os orixás com santos católicos:
Oxóssi com São Sebastião, Iemanjá com Nossa Senhora da Conceição, Xangô com São Jerônimo, etc.
Essa fusão não diluiu a fé africana — a protegeu sob o véu católico. Mesmo com o fim da proibição, o sincretismo continua sendo parte viva de muitos terreiros.
Apesar do crescimento da visibilidade e da valorização do Candomblé, ainda hoje a religião enfrenta:
Racismo religioso e ataques a terreiros.
Intolerância por parte de setores evangélicos e políticos conservadores.
Desinformação e estigmatização na mídia.
Mas também há avanços:
Reconhecimento como patrimônio cultural imaterial.
Presença na academia, nas artes e na política.
Reivindicação de identidade afro-brasileira e decolonial.
O Candomblé é, antes de tudo, resistência viva de um povo que recusou morrer espiritualmente.
Mais que religião, o Candomblé é uma filosofia encarnada:
O corpo é sagrado e tem memória.
O tempo é cíclico, regido pelas energias da natureza.
A comunidade importa mais que o ego.
A ancestralidade é um fio que liga o presente ao eterno.
Como dizia Pierre Verger, um dos maiores estudiosos do Candomblé:
“Cada Orixá dança o mundo à sua maneira.”
O Candomblé não é exótico. Ele é real, próximo, humano e divino. É uma das respostas mais belas que o espírito humano deu ao trauma, ao exílio e à opressão. É cura coletiva através do ritmo, da memória e da entrega.
Seu tambor não toca por folclore: ele chama os deuses à Terra. E cada vez que um Orixá dança, a África ancestral se ergue no Brasil — não como passado, mas como eternidade em movimento.