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O termo Paleolítico, do grego palaios (“antigo”) e lithos (“pedra”), significa literalmente “Idade da Pedra Antiga”. É o mais longo período da história humana, abrangendo cerca de 99% da existência do Homo sapiens.
Estende-se aproximadamente de 2,5 milhões de anos atrás (com as primeiras ferramentas de pedra) até cerca de 10.000 a.C., quando surgem a agricultura e os primeiros assentamentos fixos. Mas apesar da duração, o Paleolítico está longe de ser “primitivo”. Foi nesse período que nascemos como seres simbólicos, sociais e espirituais.
Durante o Paleolítico, os humanos eram caçadores-coletores, vivendo da coleta de frutos, raízes, ovos e da caça de animais selvagens. O nomadismo era necessário: onde havia recursos, havia vida.
Não havia cidades, nem propriedade privada. A organização era, em geral, comunitária, igualitária e adaptativa — embora já existissem papéis sociais distintos, inclusive por gênero e idade.
Grupos pequenos, de 20 a 50 indivíduos.
Mobilidade constante, guiada por estações e disponibilidade de recursos.
Ferramentas rudimentares de pedra, madeira e osso.
Uso do fogo (desde pelo menos 400.000 anos).
Primeiros sinais de linguagem, mitos e rituais.
O imaginário popular reduz o Paleolítico a lanças e cavernas. Mas os vestígios arqueológicos mostram algo mais profundo: uma cultura simbólica em gestação.
As primeiras ferramentas (cultura Olduvaiense) surgem com o Homo habilis, por volta de 2,5 milhões de anos.
Ao longo do tempo, técnicas se sofisticam: lasqueamento, entalhe, polimento rudimentar.
Homo erectus, neandertais e sapiens desenvolveram diversidade tecnológica funcional: facas, raspadores, pontas de lança, agulhas.
Pinturas, esculturas, música e rituais não surgiram com a agricultura, como se pensava. Elas já floresciam no mundo caçador-coletor.
As primeiras expressões artísticas datam de pelo menos 100.000 anos atrás (miçangas de conchas na África do Sul).
Há evidências de enterramentos rituais, indicando alguma noção de pós-vida ou respeito simbólico aos mortos.
Talvez o aspecto mais icônico do Paleolítico seja a arte rupestre — pinturas e gravuras feitas nas paredes de cavernas profundas. Elas não serviam para decorar. Eram portais simbólicos.
Caverna de Chauvet (França, ~36.000 anos): realismo impressionante de leões, rinocerontes e cavalos.
Altamira (Espanha): bisões em vermelho ocre e preto, com técnica de volume e sombreamento.
Lascaux (França): milhares de imagens, incluindo caçadores, animais e sinais abstratos.
Rituais de caça: arte como magia para garantir sucesso nas caçadas.
Totemismo: ligação espiritual entre grupos humanos e animais.
Xamanismo: figuras híbridas homem-animal sugerem transes e experiências místicas.
Linguagem simbólica primitiva: início de uma gramática da imagem.
A caverna não era apenas abrigo. Era templo, tela e teatro da mente.
Durante muito tempo, a narrativa ocidental vendeu a ideia de que o Paleolítico foi um período brutal, de miséria e ignorância. No entanto, estudos antropológicos recentes desafiam essa visão.
Grupos caçadores-coletores:
Tinham dieta diversificada e menos doenças degenerativas que os agricultores posteriores.
Viviam em redes sociais colaborativas, com divisão de tarefas flexível.
Possuíam conhecimento profundo do ambiente, plantas medicinais e ciclos da natureza.
A “idade da pedra” era, na verdade, a era da sabedoria ecológica.
O Paleolítico termina quando o clima global se aquece, após a última glaciação (~12.000 anos atrás). Esse novo ambiente permite a domesticação de plantas e animais — inaugurando o Neolítico.
Mas essa transição não foi linear nem uniforme. Por milênios, caçadores-coletores coexistiram com agricultores. Alguns resistiram até tempos modernos — como os San, Hadza e Inuit.
O Paleolítico não é “o começo” da civilização — é a própria fundação daquilo que nos torna humanos: linguagem, arte, cooperação, espiritualidade, técnica.
Foi no escuro das cavernas que a humanidade acendeu sua primeira luz interior.
E essa luz não foi elétrica nem científica — foi simbólica, poética, ancestral.