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O Iluminismo, também conhecido como Século das Luzes, foi um movimento intelectual que marcou profundamente a história do Ocidente entre os séculos XVII e XVIII. Surgido no bojo da Revolução Científica e da crise das estruturas medievais e absolutistas, o Iluminismo propunha um novo ideal de sociedade, baseado na razão, na ciência e na liberdade de pensamento.
Mais do que um simples movimento de ideias, o Iluminismo representou uma verdadeira mudança de paradigma: a confiança no poder da mente humana para compreender, explicar e transformar o mundo, sem depender da revelação divina, da autoridade religiosa ou da tradição.
O Iluminismo não surgiu do nada. Ele foi precedido por duas correntes filosóficas fundamentais:
Racionalismo: representado por pensadores como René Descartes, Baruch Spinoza e Gottfried Leibniz, defendia que o conhecimento verdadeiro decorre da razão pura, da dedução lógica e de ideias inatas. Descartes sintetizou essa visão no famoso “Cogito, ergo sum” — “Penso, logo existo”.
Empirismo: encabeçado por John Locke, George Berkeley e David Hume, enfatizava a experiência sensível como origem do conhecimento. Para os empiristas, nascemos como uma “tábula rasa”, e tudo que sabemos deriva da interação com o mundo.
Embora divergentes, ambas as correntes inspiraram o Iluminismo ao deslocar o eixo da verdade da autoridade externa (igreja ou rei) para a capacidade humana de pensar e observar.
Os pensadores iluministas — chamados de philosophes na França — propuseram uma reestruturação da sociedade com base em três pilares:
Razão: a racionalidade como método universal para compreender a natureza, a sociedade e o ser humano. A ignorância, os dogmas e os preconceitos deveriam ser combatidos com a luz do pensamento crítico.
Progresso: crença de que a humanidade pode evoluir indefinidamente por meio da ciência, da educação e das reformas sociais. O sofrimento humano não seria um castigo divino, mas um problema a ser solucionado.
Liberdade: o indivíduo deveria ser livre para pensar, expressar-se, acreditar (ou não acreditar) e participar das decisões políticas. A liberdade era entendida como um direito natural, anterior a qualquer governo.
O Iluminismo não foi homogêneo, mas algumas figuras se destacam pelo impacto de suas obras:
Voltaire: crítico feroz da Igreja e do fanatismo, defendia a liberdade de expressão e a tolerância religiosa.
Montesquieu: propôs a separação dos poderes (executivo, legislativo e judiciário) como forma de evitar tiranias.
Jean-Jacques Rousseau: acreditava na bondade natural do ser humano e na corrupção causada pela sociedade; propôs o “contrato social” como base legítima do poder político.
Denis Diderot e D’Alembert: coordenaram a monumental Enciclopédia, projeto de reunir e difundir todo o conhecimento humano, desafiando os dogmas estabelecidos.
Immanuel Kant (na Alemanha): proclamava que o Iluminismo é “a saída do homem de sua menoridade”, isto é, o despertar do pensamento autônomo.
O Iluminismo teve consequências imensas, tanto positivas quanto paradoxais:
Revoluções políticas: inspirou movimentos como a Revolução Americana (1776) e a Revolução Francesa (1789), que derrubaram monarquias e proclamaram direitos civis universais.
Laicização do saber: rompeu com o monopólio do conhecimento religioso e deu impulso às ciências naturais e humanas.
Educação e imprensa: democratizou o saber por meio de escolas, bibliotecas e panfletos — uma explosão de ideias acessíveis.
Abolicionismo e direitos humanos: colocou em questão a escravidão, o racismo, o patriarcado e o colonialismo (ainda que muitos iluministas fossem contraditórios nesse ponto).
Contudo, o Iluminismo também gerou excessos e ambiguidades:
A obsessão pela razão às vezes negava o valor da emoção, da arte e da espiritualidade.
O eurocentrismo iluminista frequentemente desqualificava culturas não ocidentais como “atrasadas” ou “irracionais”.
A ideia de progresso foi, mais tarde, usada para justificar o imperialismo sob o disfarce de “civilizar” os outros povos.
O Iluminismo foi, ao mesmo tempo, libertador e normativo. Ele desafiou as trevas do dogma e do absolutismo, mas impôs novas formas de autoridade — a da razão científica, da norma universal, do Estado laico. Foi o berço da modernidade, da democracia liberal e do mundo que, até hoje, ainda tenta equilibrar razão e sensibilidade, liberdade e responsabilidade, ciência e ética.