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A história da vida na Terra não é uma narrativa de progresso contínuo. Ela é marcada por rupturas violentas, eventos onde quase tudo desaparece — e o que sobra, reinventa o mundo. Em bilhões de anos de evolução, a extinção em massa é a norma, não a exceção.
A ideia de que a natureza é estável é confortável… e falsa. As extinções em massa mostram que a vida está sempre à beira do abismo, sujeita a fatores externos — meteoros, vulcanismo, mudanças climáticas — e a seus próprios excessos.
Charles Darwin, ao propor a seleção natural, explicou como pequenas variações geram grandes diferenças ao longo do tempo. Mas mesmo Darwin não conheceu o ritmo caótico da extinção em massa. Hoje sabemos: a evolução caminha aos tropeços, e às vezes é preciso zerar o tabuleiro para novas formas surgirem.
A extinção não é apenas morte — é também espaço ecológico liberado. Quando dominadores desaparecem, nichos se abrem. A crise é também oportunidade, ainda que a um custo impiedoso.
Uma extinção em massa ocorre quando mais de 75% das espécies do planeta desaparecem num intervalo relativamente curto (em termos geológicos). Diferente das extinções de fundo (naturais e lentas), elas representam colapsos abruptos da biodiversidade.
Ao longo da história conhecida da vida multicelular (cerca de 540 milhões de anos), ocorreram cinco grandes extinções em massa — e possivelmente estamos vivendo a sexta.
Causa provável: glaciação súbita e queda no nível do mar.
Impacto: cerca de 85% das espécies marinhas desapareceram. A vida ainda estava restrita aos oceanos.
Causa provável: mudanças climáticas, vulcanismo, queda de oxigênio nos mares.
Impacto: extinção de muitos peixes primitivos e recifes. A transição da vida marinha para terrestre foi abalada.
A “Grande Morte”
Causa provável: supervulcanismo (Sibéria), acidificação dos oceanos, liberação de metano.
Impacto: a maior de todas — 96% das espécies marinhas e 70% das terrestres desapareceram. Mudou a ecologia do planeta.
Causa provável: atividade vulcânica massiva e mudanças climáticas.
Impacto: extinção de muitos répteis arcaicos e liberação de espaço para os dinossauros dominarem.
Causa provável: impacto de asteroide (Chicxulub) e erupções (Deccan Traps).
Impacto: fim dos dinossauros não-avianos, 75% da vida extinguida. Abriu espaço para os mamíferos se expandirem.
Hoje, muitos cientistas alertam que estamos no limiar — ou já dentro — de uma sexta extinção em massa, desta vez causada por uma única espécie: o Homo sapiens.
Taxas de extinção até mil vezes maiores que o normal.
Destruição de hábitats, desmatamento, poluição.
Mudanças climáticas aceleradas por emissões de CO₂.
Colapso de populações de insetos, anfíbios, aves e mamíferos.
A diferença? Não há vulcão, meteoro ou glaciação. Há tecnologia, economia e decisões humanas.
A evolução não tem plano. Ela adapta. Ela recicla. Ela improvisa. Após cada extinção, a Terra se reorganizou. Os trilobitas deram lugar aos peixes. Os dinossauros aos mamíferos. A megafauna aos humanos.
A questão não é se a vida vai sobreviver à próxima extinção — ela vai.
A pergunta é: estaremos entre os sobreviventes?
Extinções em massa nos lembram da fragilidade da vida e do caráter impermanente da existência. Nada é garantido. Nada é eterno. Mas tudo está em fluxo — e esse fluxo é o palco da criatividade biológica.
Enquanto isso, nós, humanos, armados com o conhecimento do passado, temos a chance — talvez única — de não repetir os ciclos, mas transformá-los. Será que vamos?