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A Terra não mede tempo como os humanos. Nossa história, com seus impérios e revoluções, cabe nos últimos segundos de um relógio geológico que começou a 4,6 bilhões de anos atrás. Para compreendê-la, é preciso abandonar o tempo curto da cultura e mergulhar no tempo profundo, onde o planeta se move em eras, e cada piscar dura milhões de anos.
A geologia divide esse passado vasto em grandes unidades cronológicas chamadas éons, subdivididos em eras, períodos, épocas e idades. Cada uma dessas divisões corresponde a mudanças drásticas no planeta — tectônicas, climáticas ou biológicas.
Neste texto, caminharemos por quatro grandes eras: Pré-Cambriano, Paleozoico, Mesozoico e Cenozoico — uma jornada da lava à consciência.
(de 4,6 bilhões a 541 milhões de anos atrás)
Este é o maior e menos conhecido capítulo da Terra. Dura quase 90% da história planetária, mas deixa poucos registros fósseis. É a era da formação do planeta, da vida microscópica e das transformações invisíveis, mas fundamentais.
Formação da crosta terrestre, oceanos e atmosfera primitiva.
Aparecimento das primeiras células (procariontes) por volta de 3,8 bilhões de anos.
Desenvolvimento da fotossíntese pelas cianobactérias, produzindo oxigênio — o que leva ao Grande Evento de Oxigenação (2,4 bilhões de anos), transformando a atmosfera.
Formação dos supercontinentes primitivos como Rodínia.
Surgimento dos primeiros organismos multicelulares simples (Ediacara), ao final do éon.
Aqui, a vida existia, mas quase não deixava pegadas. O invisível reinava.
(de 541 a 252 milhões de anos atrás)
“A explosão da vida — e sua primeira extinção em massa”
O Paleozoico é a era da diversificação brutal da vida, com explosões evolutivas e extinções catastróficas. É quando os mares se enchem de criaturas estranhas e os primeiros seres vivos saem da água em direção à terra firme.
Cambriano – “A explosão da vida”
Início com a Explosão Cambriana, onde surgem quase todos os filos de animais modernos. Trilobitas, moluscos, cordados e esponjas dominam os oceanos.
Ordoviciano e Siluriano – “O mundo ainda é marinho”
Diversificação dos invertebrados, aparecimento dos primeiros peixes e colonização inicial da terra por plantas simples.
Devoniano – “A era dos peixes”
Peixes com mandíbulas e nadadeiras mais desenvolvidas surgem. Anfíbios saem da água. As florestas começam a cobrir a terra.
Carbonífero – “O planeta se encharca”
Formação dos grandes pântanos que darão origem ao carvão mineral. Aparecimento dos primeiros répteis e insetos gigantes (graças ao oxigênio elevado).
Permiano – “A festa termina”
Clima seco, unificação dos continentes em Pangeia, surgimento dos primeiros mamíferos primitivos.
No fim, ocorre a maior extinção em massa da história: 96% das espécies marinhas desaparecem.
O Paleozoico é vida surgindo e experimentando formas. O planeta é seu laboratório.
(de 252 a 66 milhões de anos atrás)
“A era dos répteis gigantes — e sua queda brutal”
Se o Paleozoico foi a infância da vida complexa, o Mesozoico é sua adolescência extravagante. Um tempo em que répteis dominaram os mares, os ares e os continentes — os famosos dinossauros.
Triássico – “A reconstrução”
Após a extinção do Permiano, a vida se reorganiza. Surgem os primeiros dinossauros e mamíferos primitivos.
Jurássico – “O auge dos dinossauros”
A Pangeia começa a se fragmentar. Dinossauros dominam. Aparecem os primeiros pássaros (como o Archaeopteryx) e os grandes répteis voadores (pterossauros).
Cretáceo – “A queda dos gigantes”
Surgem as plantas com flores (angiospermas). Ao final, ocorre outra extinção em massa, provavelmente causada pelo impacto de um asteroide na Península de Yucatán — selando o fim dos dinossauros não-avianos.
O Mesozoico é um palco de titãs, com um fim abrupto e dramático.
(de 66 milhões de anos até o presente)
“A era dos mamíferos — e do primata inquieto”
Com a queda dos dinossauros, mamíferos e aves herdaram a Terra. Esta era é marcada por flutuações climáticas, glaciações, evolução dos primatas e, por fim, a ascensão do homo sapiens.
Paleogeno – Mamíferos se diversificam rapidamente. Início das aves modernas. Continentes se aproximam das posições atuais.
Neogeno – Evolução dos primeiros hominídeos. Aparecimento de savanas e adaptação de espécies a climas variados.
Quaternário – Dividido entre o Pleistoceno (idade do gelo) e o Holoceno (nosso tempo). É o palco da evolução humana, da extinção de megafauna e da revolução agrícola.
O Cenozoico é a era onde a consciência começa a perguntar sobre o tempo.
As eras geológicas não são apenas história — são processo. A crosta terrestre continua se movendo. A vida continua evoluindo. O clima, mudando. E a próxima grande transformação já está em curso — causada por nós mesmos.
Alguns cientistas já propõem que entramos num novo tempo geológico: o Antropoceno, marcado pela ação humana sobre a Terra.
Mas será que uma espécie que compreende o tempo profundo será capaz de não ser mais uma camada fóssil?