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A geopolítica contemporânea é o campo onde as disputas pelo poder global se desenrolam em múltiplas frentes: economia, recursos naturais, tecnologia, cultura, ideologia e guerra. Não vivemos mais num mundo bipartido como na Guerra Fria. O cenário atual é multipolar, caótico e brutal, onde velhas potências declinam, novas surgem, e a luta por sobrevivência coletiva se mistura com os interesses privados de corporações, elites e estados.
A política internacional é, na prática, um teatro de forças, e não um espaço de cooperação honesta entre nações. Por trás de diplomacias e discursos oficiais, o que opera são alianças estratégicas, espionagem, manipulações midiáticas e guerras veladas.
Após o fim da Guerra Fria, muitos acreditaram que os Estados Unidos permaneceriam como única superpotência incontestável. Mas o cenário mudou drasticamente:
China: Emergindo como a principal rival econômica e tecnológica dos EUA, a China expandiu seu poder através da iniciativa Nova Rota da Seda (Belt and Road Initiative), investimentos em infraestrutura e controle estratégico de cadeias produtivas.
Rússia: Embora economicamente inferior a outras potências, mantém influência militar considerável e protagonizou conflitos estratégicos, como a anexação da Crimeia (2014) e a guerra contra a Ucrânia (a partir de 2022), escancarando os limites da ordem ocidental.
Índia: Com uma população superior a 1,4 bilhão e crescente desenvolvimento tecnológico, busca afirmar-se como potência autônoma, oscilando entre alianças com o Ocidente e parcerias com o Sul Global.
União Europeia: Fragmentada por interesses nacionais e dependências energéticas, a UE tenta manter relevância política e econômica em um mundo que muitas vezes a ultrapassa.
Sul Global: Países da América Latina, África e Sudeste Asiático lutam por maior autonomia, mas frequentemente se veem capturados por disputas entre as grandes potências e por estruturas econômicas neocoloniais.
O século XXI não aboliu as guerras — apenas as sofisticou:
Ucrânia: O conflito entre Rússia e Ucrânia não é apenas regional — representa uma disputa entre o expansionismo da OTAN e os interesses estratégicos russos.
Mar do Sul da China: Área vital para o comércio global, tornou-se foco de disputas entre a China e potências ocidentais.
Taiwan: Um dos pontos mais tensos da política internacional, envolvendo diretamente EUA e China.
Oriente Médio: Continua sendo palco de guerras indiretas e crises permanentes (Israel-Palestina, Síria, Irã-Arábia Saudita), alimentadas por interesses energéticos e geopolíticos.
África: Rica em recursos minerais estratégicos (cobalto, lítio, ouro), é alvo da disputa entre potências ocidentais, China e Rússia, resultando em golpes, guerras civis e intervenção de mercenários.
Além das guerras militares, estamos imersos na era da guerra informacional e cibernética, onde hackeamentos, manipulação de eleições e produção de narrativas falsas tornaram-se armas políticas legítimas.
A geopolítica não é mais apenas um jogo entre estados. Multinacionais, bancos, Big Techs e fundos de investimento exercem poder político real:
Empresas como Amazon, Google, Microsoft, Meta e Apple detêm controle sobre comunicações, dados pessoais e fluxos de informação global.
Fundos financeiros como BlackRock e Vanguard administram trilhões de dólares e influenciam decisões econômicas de governos inteiros.
Empresas petrolíferas e mineradoras sustentam regimes autoritários e conflitos armados em troca do controle sobre recursos naturais.
Esse cenário gera o que muitos analistas chamam de capitalismo de vigilância e capitalismo militarizado.
Organismos criados para manter a ordem internacional, como a ONU, OMS, FMI e Banco Mundial, estão enfraquecidos ou capturados por interesses particulares. Suas decisões são frequentemente ignoradas ou manipuladas pelas grandes potências.
O conceito de “direito internacional” tornou-se frágil diante de:
Intervenções militares unilaterais;
Quebra de tratados ambientais;
Bloqueios econômicos que servem como armas políticas.
A crise climática acrescenta uma nova camada à geopolítica contemporânea. Recursos naturais vitais — água potável, minerais estratégicos, alimentos — estão no centro de disputas abertas e futuras guerras.
Além disso, muitos países ricos adotam políticas neocoloniais disfarçadas de ambientalismo, buscando restringir o desenvolvimento de países periféricos em nome da proteção ambiental, mas sem abrir mão de seu consumo predatório.
Nos últimos anos, assistimos à ascensão de governos autoritários e movimentos de extrema-direita em várias partes do mundo: Estados Unidos (Trump), Brasil (Bolsonaro), Itália (Meloni), Hungria (Orbán), Índia (Modi), entre outros.
Esses movimentos:
Atacam direitos civis e liberdades democráticas;
Alimentam discursos nacionalistas e xenofóbicos;
Negam a crise climática ou propõem soluções violentas para ela (barreiras, muros, militarização de fronteiras).
Esse fenômeno revela um colapso ideológico da ordem liberal e a emergência de novas formas de autoritarismo adaptado à era digital.
Mesmo diante desse cenário caótico, surgem resistências globais:
Alianças Sul-Sul buscando autonomia frente ao imperialismo ocidental.
Movimentos sociais transnacionais articulando lutas ambientais, feministas, antirracistas e trabalhistas.
Experiências locais de democracia radical, economia solidária e autonomia territorial.
A geopolítica contemporânea não é um campo fechado. Ainda existem brechas, fissuras e possibilidades de construção de novas ordens mais justas — mas elas exigem enfrentamento direto contra os interesses de Estados, corporações e elites financeiras.
O mundo não está em equilíbrio. Ele está em disputa. E a pergunta não é mais se haverá mudanças radicais — mas quais mudanças, por quem e para quem.