Lábios da Sabedoria

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“A arte é o órgão supremo da filosofia.”

Quem foi Schelling?

Schelling nasceu em Leonberg, no ducado de Württemberg, Alemanha, e desde cedo foi reconhecido como um prodígio filosófico. Aos 23 anos já era professor universitário, e ao longo da vida conviveu intelectualmente com nomes como Hegel, Fichte, Goethe e os irmãos Schlegel. Foi uma figura central no Romantismo Alemão e no desenvolvimento da filosofia da natureza, da arte, da liberdade e da mitologia.

Seu pensamento passou por diversas fases e transformações profundas — o que o torna, ao mesmo tempo, um pensador escapista de sistemas fechados e visionário de intuições que o século XX ainda iria explorar.

Principais Obras

  • Sistema do Idealismo Transcendental (1800)

  • Investigações Filosóficas sobre a Essência da Liberdade Humana (1809)

  • Filosofia da Natureza (vários ensaios entre 1797 e 1803)

  • Filosofia da Arte (1802)

  • Revelação Filosófica (escritos tardios)

  • Mitologia e Revelação (última fase de seu pensamento)

Núcleo do Pensamento

 A Natureza como Espírito Visível

Schelling rompe com a visão cartesiana e mecanicista da natureza. Para ele, a natureza não é uma máquina morta, mas um organismo vivo, dinâmico, em processo de autodesenvolvimento. É uma expressão do Espírito, não sua antítese.

“A natureza é o Espírito visível, e o Espírito é a natureza invisível.”

Assim, não há separação radical entre sujeito e objeto, entre consciência e mundo: tudo é manifestação de uma realidade absoluta em movimento.


 O Absoluto como Liberdade

Ao contrário de Hegel, que vê o Absoluto como razão lógica, Schelling o entende como um princípio criador, livre, que escapa à total racionalização. O Absoluto é tanto razão quanto irrupção, tanto ordem quanto potência criadora — um “Deus vivo”, não um sistema.

Isso leva Schelling a antecipar muitas discussões da filosofia existencial, da psicanálise e da teologia contemporânea.


 A Filosofia da Liberdade

Em sua obra Investigações sobre a Liberdade Humana, Schelling apresenta uma das mais profundas reflexões sobre o mal, a criação e a liberdade. Ele argumenta que o mal não é um erro racional, mas uma possibilidade real no ser humano — fruto da liberdade radical que habita em nós.

Essa concepção complexa de liberdade e de vontade influenciaria profundamente Kierkegaard, Nietzsche e Heidegger.


 Arte, Mitologia e Revelação

Schelling via a arte como a mais alta expressão da verdade, pois unifica razão e sentimento, forma e conteúdo. Para ele, a arte revela o Absoluto de forma intuitiva.

Nas fases finais de sua filosofia, Schelling desenvolve uma filosofia da mitologia e da revelação, buscando compreender as religiões antigas e o cristianismo como expressões históricas de um drama metafísico do Absoluto. Ele se aproxima, então, de uma teologia filosófica e de um misticismo racional.


 Contrastes com seus pares

PensadorEnfoque do Absoluto
KantIncognoscível, limite da razão
FichteAtividade do eu
HegelRazão histórica e dialética
SchellingLiberdade viva, força criadora, mistério

Schelling nunca aceitou o sistema fechado de Hegel. Para ele, o real não é totalmente racionalizável, e o mistério é parte essencial da existência.

Frases Memoráveis

“A história da filosofia é a luta para tornar o inconsciente consciente.”
“Onde o espírito não é livre, não há verdade.”
“O começo de toda filosofia deve ser um ato de liberdade.”

Legado e Influência

  • Precursor do existencialismo, da fenomenologia e da filosofia da religião moderna.

  • Influenciou Nietzsche, Kierkegaard, Heidegger, Bergson, Tillich, Scheler.

  • Inspirou o movimento romântico alemão e os estudos modernos sobre mitologia e arte.

  • Foi redescoberto no século XX como um pensador do inconsciente, da criatividade e do trágico, muito além do racionalismo hegeliano.

Schelling em Lábios da Sabedoria

  • Schelling nos convida a reencantar o mundo. Para ele, o universo não é um sistema rígido de causas, mas uma grande obra de arte viva, pulsante, onde razão, natureza, liberdade e mistério coexistem. Sua filosofia é uma ponte entre o mito e a lógica, entre o espírito do tempo e o eterno.

    Ao estudá-lo, nos aproximamos de um conhecimento que não teme o abismo, mas o habita e o compreende como parte do real.