Portal do Aluno
Ibn Sina, conhecido no Ocidente como Avicena, nasceu em Afshana, próxima a Bucara (atual Uzbequistão), em uma região culturalmente persa e islâmica. Foi um filósofo, médico, matemático, astrônomo, físico e teólogo. Considerado um polímata por excelência, Avicena é o exemplo acabado do ideal do “homem universal”.
Com apenas 16 anos, já dominava a medicina. Aos 21, escreveu algumas de suas obras mais importantes. Ao longo da vida, atuou como conselheiro político, médico da corte e pensador incansável, sempre em movimento, entre perseguições e convites de sultões.
Enciclopédia médica em cinco volumes.
Foi o principal livro de medicina da Europa e do mundo islâmico por mais de 600 anos.
Sistemático, clínico e filosófico — ligando corpo, mente e alma.
Obra filosófica monumental, dividida em lógica, física, matemática e metafísica.
Tenta unificar o pensamento de Aristóteles e o neoplatonismo com a cosmologia islâmica.
Avicena propôs a distinção entre:
Essência (o que uma coisa é) e
Existência (o fato de ela ser).
Essa distinção o levou a formular o argumento do Ser Necessário:
Tudo o que existe tem uma razão para existir.
Mas se tudo fosse contingente, nada existiria.
Logo, deve haver um ser cuja existência é necessária: Deus.
Esse raciocínio foi crucial para a metafísica posterior, tanto islâmica quanto cristã.
Avicena propôs a famosa experiência do “homem suspenso”:
Imagine-se flutuando no ar, privado de qualquer percepção sensorial.
Ainda assim, você saberia que existe.
Isso prova que a alma tem consciência de si independente do corpo.
Essa ideia antecipa noções de consciência, subjetividade e até experiências fenomenológicas.
Inspirado por Aristóteles e o neoplatonismo, Avicena desenvolve uma hierarquia do universo:
De Deus emana uma cadeia de intelectos separados, cada qual responsável por um nível da realidade.
O Intelecto Agente, o décimo da cadeia, é aquele com o qual a alma humana entra em contato ao atingir o conhecimento verdadeiro.
A felicidade é a realização da alma pela razão, que a conduz à união com o Intelecto.
O Estado ideal é aquele que promove esse desenvolvimento intelectual e espiritual.
A religião, para Avicena, é uma representação simbólica da verdade filosófica para as massas — um conceito que causaria tensões teológicas profundas.
Apesar de sua fama, Avicena foi perseguido por ortodoxos religiosos que viam sua filosofia como herética.
Foi preso, fugiu, viveu disfarçado, mas nunca parou de escrever.
Morreu em Hamadan, no Irã, após uma vida de intensa produção intelectual.
Avicena foi o maior filósofo do Islã medieval.
Sua influência se estendeu à Europa latina por meio de traduções, especialmente de sua metafísica e medicina.
Influenciou profundamente Tomás de Aquino, Duns Scotus e até o Renascimento.
No mundo islâmico, sua figura é reverenciada até hoje, sendo chamado de “Príncipe dos Filósofos” e “Mestre dos Médicos”.
Avicena representa a síntese rara entre fé, razão, ciência e espiritualidade. Seu legado nos desafia a olhar o saber como um todo — onde a metafísica, a medicina, a lógica e a alma humana se entrelaçam.
“Conhecer a si mesmo é elevar-se à contemplação do Necessário, do Uno, da Verdade.”