Lábios da Sabedoria

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“O amor é a mais perfeita forma de conhecimento.”

Quem foi João Duns Scotus?

João Duns Scotus nasceu na Escócia ou Irlanda (a origem exata é debatida), e ingressou muito jovem na Ordem dos Franciscanos. Atuou como professor em universidades importantes como Oxford, Paris e Colônia. Sua vida foi curta, mas intensa: morreu aos 42 anos, deixando uma obra densa, profundamente técnica e altamente influente na teologia e na filosofia medieval.

Scotus foi um dos principais críticos do tomismo (Tomás de Aquino), propondo uma filosofia marcada pela subtileza conceitual, atenção aos detalhes lógicos e ênfase na vontade como faculdade central do ser humano e de Deus.

Principais Obras

Ordinatio (Opus Oxoniense)

  • Seu trabalho filosófico-teológico mais importante.

  • Comentário às Sentenças de Pedro Lombardo, com profundas análises sobre metafísica, lógica, ética e teologia.

Reportatio Parisiensis

  • Compilação de suas aulas em Paris, provavelmente feita por discípulos. Complementa a Ordinatio em vários pontos.

Quaestiones Quodlibetales

  • Série de questões filosóficas debatidas em público, que revelam a habilidade lógica e argumentativa de Scotus.

Pensamento Filosófico

 Univocidade do Ser

  • Ao contrário de Tomás de Aquino, que dizia que “ser” se aplica de forma análoga a Deus e às criaturas, Scotus defendia a univocidade do ser:

    “O ser se diz de Deus e das criaturas no mesmo sentido básico.”

  • Isso não nega a diferença entre Deus e o mundo, mas torna possível a metafísica como ciência universal, com linguagem comum para todos os entes.

 Haecceitas (“istoidade”)

  • Conceito-chave de sua metafísica: a haecceitas é o princípio que torna um ente único e individual, distinto de todos os outros.

  • Enquanto a essência define o que algo é, a haecceitas define quem algo é: sua singularidade irrepetível.

  • Esse conceito antecipa ideias modernas sobre identidade e subjetividade.

 Primazia da Vontade (Voluntarismo)

  • Scotus inverte a ordem tomista entre intelecto e vontade.

  • Para ele, a vontade é superior ao intelecto:

    “A liberdade da vontade é o fundamento da moral e da dignidade humana.”

  • Inclusive, Deus é absolutamente livre, e sua vontade é o que determina as leis morais, não sua razão.

 Teologia e Imaculada Conceição

  • Scotus foi um dos primeiros a defender racionalmente que Maria foi concebida sem pecado original — uma doutrina que só se tornou dogma séculos depois.

  • Sua defesa parte da ideia de que Deus, sendo todo-poderoso, poderia preservar Maria do pecado original em vista da redenção futura de Cristo.

Ética e Política

  • Ética fundamentada na liberdade da vontade e no amor voluntário.

  • A lei moral é conhecida pela razão, mas depende da vontade de Deus, que poderia ter ordenado de outra forma — exceto nos princípios mais fundamentais, como amar a Deus.

Legado e Influência

    • Fundador do escotismo, linha filosófica que influenciou profundamente os franciscanos e parte da tradição mística cristã.

    • Antecipou temas modernos: liberdade radical, individuação, identidade pessoal.

    • Influenciou Descartes, Leibniz, Kant e até Heidegger (que estudou sua ontologia da univocidade).

    • Seu pensamento foi oficialmente reconhecido e valorizado pela Igreja Católica; foi beatificado em 1993 por João Paulo II.

João Duns Scotus em Lábios da Sabedoria

    • Scotus nos convida a refletir que ser é dizer-se sempre em muitos, mas também em cada um como único. Seu pensamento atravessa a metafísica, a liberdade e o amor como forças fundantes do real.

      “O ser é dito de modo unívoco: o mesmo verbo para o mundo e para Deus. E nesse verbo, cada um de nós se distingue.”