Lábios da Sabedoria

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“O maior bem para o maior número.”

Quem foi Jeremy Bentham?

Jeremy Bentham nasceu em Londres em uma família de juristas e desde cedo demonstrou genialidade. Aos 12 anos, já ingressava na Universidade de Oxford. Sua formação jurídica, no entanto, logo deu lugar a uma crítica implacável das instituições vigentes, impulsionando-o a reformular completamente as bases do direito, da moral e da política.

Bentham é o criador do utilitarismo, uma doutrina filosófica e ética que avalia ações com base em suas consequências: o que é moral é aquilo que produz felicidade, prazer ou bem-estar para o maior número de pessoas possível.

Ele também foi um reformador radical — defensor da democracia, do sufrágio universal, da liberdade de expressão, do direito das mulheres, da descriminalização da homossexualidade, da educação pública e da reforma prisional. Em vida, seus projetos nem sempre foram implementados, mas suas ideias influenciaram profundamente o pensamento moderno.

Principais Obras

  • Introdução aos Princípios da Moral e da Legislação (1789)

  • Fragmento sobre o Governo (1776)

  • O Ofício Legislativo (compilado póstumo)

  • Panopticon; or, The Inspection House (1791)

  • Escritos sobre direito penal, liberdades civis e política

Núcleo do Pensamento

 O Princípio da Utilidade

Para Bentham, todos os seres humanos (e inclusive os animais sensíveis) estão sujeitos a dois soberanos: a dor e o prazer. Portanto, qualquer ação, lei ou instituição deve ser julgada por sua utilidade, ou seja, pela tendência de produzir felicidade ou reduzir o sofrimento.

Essa é a base do chamado calculus utilitarista — uma espécie de medição racional das consequências das ações, considerando:

  • Intensidade do prazer

  • Duração

  • Certeza ou incerteza

  • Proximidade

  • Fecundidade (se gera mais prazer)

  • Pureza (livre de dor)

  • Extensão (quantas pessoas afeta)

Tudo isso para guiar decisões morais e políticas de forma objetiva e racional.


 Utilitarismo e Direito

Bentham criticava as tradições jurídicas baseadas em costumes, precedentes ou supostos direitos naturais. Para ele, as leis deviam ser claras, racionais e voltadas para o bem público. Essa crítica o colocou contra o pensamento de Edmund Burke e dos jusnaturalistas.

Propôs reformas legais, penais e políticas inovadoras — como a eliminação de penas cruéis, transparência na gestão pública, sistemas representativos eficientes e o uso de uma linguagem legal clara e acessível.


 O Panóptico

Uma de suas ideias mais conhecidas é o Panóptico, um modelo de prisão ideal baseado na vigilância constante. O design arquitetônico permitiria a um único guarda observar todos os prisioneiros sem ser visto.

Embora nunca tenha sido implementado totalmente, o Panóptico tornou-se símbolo dos debates sobre vigilância, poder e controle social, especialmente após as análises de Michel Foucault no século XX.


 Defesa dos Direitos dos Animais

Bentham foi um dos primeiros pensadores a argumentar, de forma racional e pública, que os animais merecem consideração moral. Para ele, o critério moral não é “pode falar?”, mas sim:

Pode sofrer?

Essa ideia foi revolucionária e é considerada a base do movimento pelos direitos dos animais moderno.

Frases Memoráveis

“A natureza colocou a humanidade sob o governo de dois senhores soberanos: a dor e o prazer.”
“A questão não é: ‘podem raciocinar?’, nem ‘podem falar?’, mas: ‘podem sofrer?’”
“Toda lei não baseada na utilidade é uma tirania.”
“Os direitos naturais são simples nonsense: nonsense sobre pernas de pau.”

Legado

Bentham inspirou pensadores como John Stuart Mill, Henry Sidgwick e influenciou reformas em diversas áreas: do direito penal ao sistema eleitoral, da saúde pública à proteção animal.

Seu corpo embalsamado está exposto na University College London, a seu pedido, como um lembrete de sua dedicação à razão e à utilidade pública — e seu rosto foi literalmente conservado como uma provocação à vaidade da posteridade.

Bentham em Lábios da Sabedoria

Estudar Jeremy Bentham é encarar de frente a complexidade da moralidade pública. Sua filosofia exige lucidez e coragem para medir consequências, reconhecer privilégios e reavaliar tradições. É uma filosofia da responsabilidade real, e não da aparência moral.

Em um mundo de discursos éticos vazios, Bentham nos convoca à pergunta fundamental:
O que, de fato, promove o bem-estar de todos?