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Jürgen Habermas é um filósofo e sociólogo alemão, nascido em 1929, reconhecido por sua vasta obra voltada à ética, política, linguagem e sociedade. É considerado o principal representante da segunda geração da Escola de Frankfurt, sucedendo pensadores como Horkheimer, Adorno e Marcuse.
Diferente de seus predecessores mais pessimistas quanto à razão moderna, Habermas tenta reabilitar a racionalidade como caminho para a emancipação, propondo uma filosofia voltada ao diálogo, à democracia e à ação comunicativa.
Habermas desenvolveu sua principal contribuição filosófica na monumental obra “Teoria do Agir Comunicativo” (1981). Nela, ele afirma que o ser humano não age apenas com base em interesses ou estratégias (ação instrumental), mas também por meio da comunicação orientada ao entendimento mútuo.
Ele distingue dois tipos fundamentais de racionalidade:
Razão instrumental: voltada a resultados, eficiência e controle (dominante na modernidade capitalista);
Razão comunicativa: voltada ao diálogo, ao entendimento, ao consenso racional entre sujeitos livres e iguais.
Para Habermas, só a razão comunicativa pode fundamentar uma sociedade verdadeiramente democrática, inclusiva e justa.
Habermas propõe a chamada ética do discurso: uma teoria normativa que defende que as normas e valores legítimos só podem emergir do consenso racional alcançado entre todos os envolvidos, em condições ideais de comunicação (sem coerção, com acesso à informação e igualdade de participação).
Essa teoria fundamenta sua visão de democracia deliberativa, onde o poder político deve ser guiado por processos argumentativos públicos, e não apenas pela lógica do mercado ou da burocracia estatal.
“Somente aquelas normas podem pretender validade que encontram aceitação por todos os participantes de um discurso prático.”
Teoria do Agir Comunicativo (1981)
Conhecimento e Interesse (1968)
Mudança Estrutural da Esfera Pública (1962)
Consciência Moral e Agir Comunicativo (1983)
Direito e Democracia: entre Facticidade e Validade (1992)
A Inclusão do Outro (1996)
Habermas também atua no debate sobre o lugar da religião nas sociedades pós-seculares. Ele reconhece que tradições religiosas ainda oferecem recursos morais importantes, e defende um diálogo entre crentes e não crentes, desde que haja tradução dos argumentos religiosos em linguagem secular acessível a todos.
Sua postura é de laicidade aberta e dialógica, contra tanto o dogmatismo religioso quanto o ateísmo militante.
Habermas é crítico do ceticismo pós-moderno representado por autores como Foucault e Derrida. Para ele, o abandono da ideia de verdade, razão ou universalidade conduz ao relativismo ético e ao niilismo político. Ainda acredita que é possível um projeto de modernidade não colonizador, emancipador e racionalmente fundado.
Jürgen Habermas é um dos últimos grandes filósofos públicos da Europa, respeitado em múltiplas áreas: filosofia, sociologia, direito, ciência política e teoria da comunicação.
Sua defesa da deliberação democrática, da cidadania ativa e da razão argumentativa inspira movimentos por justiça social, reformas democráticas e diálogo intercultural no mundo todo.
Habermas nos lembra que, mesmo em tempos de polarização, desinformação e cinismo político, ainda há espaço para diálogo racional, participação cidadã e construção coletiva da verdade. Sua filosofia é um convite à esperança crítica, à razão sem arrogância, ao pensar como forma de agir no mundo.
“A democracia precisa de cidadãos que não apenas votem, mas que discutam, argumentem e se escutem.”