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Simone de Beauvoir foi uma filósofa, escritora, professora e militante francesa, uma das principais representantes do existencialismo ao lado de Jean-Paul Sartre, e uma das vozes mais importantes do feminismo contemporâneo. Ao longo de sua vida, criticou ferozmente a opressão feminina, os papéis sociais impostos às mulheres e os mecanismos que sustentam a desigualdade de gênero.
Autora de obras filosóficas, romances e ensaios políticos, sua escrita mistura reflexão existencial, crítica social e testemunho pessoal. Sua obra-prima, “O Segundo Sexo” (Le Deuxième Sexe, 1949), é considerada uma das bases fundadoras do feminismo moderno, ao oferecer uma análise profunda da condição da mulher na história, na cultura e na sociedade.
“O Segundo Sexo” (1949)
Obra monumental que examina, com rigor filosófico e histórico, a construção da mulher como “o outro” em relação ao homem. É nesse livro que surge sua frase mais célebre: “Não se nasce mulher: torna-se mulher.”
“Memórias de uma moça bem-comportada” (1958)
Primeiro volume de suas memórias, em que narra sua infância, juventude e formação intelectual, além das contradições da sociedade burguesa francesa.
“A Convidada” (1943)
Romance existencialista que explora as tensões entre liberdade, desejo e responsabilidade nas relações humanas.
“Os Mandarins” (1954)
Romance vencedor do Prêmio Goncourt que retrata a vida intelectual e política da França do pós-guerra.
Simone de Beauvoir parte da tradição existencialista de Sartre: o ser humano não possui uma essência fixa — somos livres e responsáveis por construir quem somos. Essa liberdade, no entanto, é negada às mulheres por meio da opressão social, cultural e histórica. A mulher é reduzida a um papel — mãe, esposa, musa — e privada da condição plena de sujeito.
“A opressão não cria apenas vítimas; cria também sistemas de justificativa.”
No “Segundo Sexo”, Beauvoir demonstra que o feminino é uma construção cultural, não uma condição biológica. Desde cedo, a mulher é ensinada a ser passiva, dependente e decorativa. Sua existência é moldada para agradar e servir ao homem — ela é “o outro”, enquanto o homem é o universal.
Essa crítica é uma ruptura radical com o essencialismo, que via a mulher como naturalmente inferior, e abre as portas para o feminismo como análise crítica das estruturas de dominação.
Para Beauvoir, a condição humana é ambígua: somos ao mesmo tempo sujeitos livres e objetos determinados. A verdadeira ética exige reconhecer essa ambiguidade, respeitar a liberdade do outro e lutar contra todas as formas de opressão.
Sua parceria com Jean-Paul Sartre, tanto intelectual quanto afetiva, foi incomum e revolucionária. Recusaram o casamento tradicional, optando por uma relação aberta baseada na liberdade e na sinceridade. Beauvoir, no entanto, não viveu à sombra de Sartre — ela construiu uma filosofia própria, que aprofundou o existencialismo com uma crítica social afiada e um olhar singular sobre a condição feminina.
Simone de Beauvoir foi testemunha e participante ativa dos grandes movimentos do século XX: lutou contra o nazismo, apoiou a independência da Argélia, defendeu os direitos civis e os direitos das mulheres em escala global. Em seus últimos anos, engajou-se fortemente nos debates feministas e denunciou a opressão das mulheres em todas as suas formas.
A influência de Simone de Beauvoir ultrapassa fronteiras e gerações. Seu pensamento inspirou:
A segunda onda do feminismo (anos 1960–1980);
A crítica da maternidade forçada e do casamento patriarcal;
A luta por direitos reprodutivos, igualdade salarial, liberdade sexual;
A construção de uma filosofia feminista engajada, concreta e libertadora.
Simone de Beauvoir nos mostra que a libertação feminina é um projeto existencial: envolve o corpo, o pensamento, o trabalho e a política. Seu convite é claro: não aceitar a condição de “segundo sexo”, mas construir uma existência plena de significado, liberdade e responsabilidade.
“Que nada nos defina. Que nada nos sujeite. Que a liberdade seja a nossa própria substância.”