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Judith Butler é uma filósofa, teórica queer e professora nascida em Cleveland, Ohio, cuja obra abalou as fundações da filosofia política, da teoria de gênero e da psicanálise. Tornou-se conhecida mundialmente com o livro “Gender Trouble” (Problemas de Gênero, 1990), que desafia a ideia de que o gênero é algo fixo ou natural.
Sua proposta filosófica é ousada: gênero, sexo e identidade não são essências biológicas, mas construções discursivas, performativas e culturais. Para Butler, somos constituídos por normas — e subverti-las é também um ato político.
Gender Trouble (1990)
Livro fundador da teoria queer. Questiona a dicotomia tradicional entre sexo (biológico) e gênero (cultural), e propõe que ambos são construídos socialmente.
Bodies That Matter (1993)
Desenvolve a ideia de que o próprio corpo é construído através de normas sociais e linguísticas — não existe um “sexo puro” fora da linguagem e do poder.
Undoing Gender (2004)
Uma coletânea de ensaios sobre direitos humanos, transexualidade, normas de gênero e precariedade existencial.
Precarious Life (2004)
Reflete sobre a violência, a guerra e a vulnerabilidade humana após os atentados de 11 de setembro.
The Force of Nonviolence (2020)
Uma defesa radical da não-violência como ética e estratégia política, interligando questões de raça, gênero, sexualidade e economia.
Para Butler, gênero não é algo que se tem, mas algo que se faz — ou seja, uma performance repetida, sustentada por normas sociais. Não há uma “identidade de gênero” essencial que habita um corpo; o gênero é um ato socialmente ensaiado e reiterado.
“Não há um ‘eu’ por trás do fazer do eu. O ‘eu’ é esse fazer.”
Essa tese rompe com o feminismo essencialista, que via a mulher como uma categoria estável, e abre espaço para múltiplas identidades de gênero, fora do binarismo homem-mulher.
Butler segue influências como Michel Foucault e Jacques Derrida para argumentar que o próprio “sexo biológico” é interpretado e construído por discursos sociais e científicos. A ideia de que alguém nasce homem ou mulher já está carregada de normas culturais.
“O sexo, tal como o gênero, é um efeito performativo.”
Ao mostrar que o gênero é performativo, Butler afirma que as normas podem ser repetidas de maneira subversiva — isto é, há sempre a possibilidade de paródia, inversão, transgressão. Daí sua admiração por figuras como drag queens, que expõem o gênero como construção.
Esse espaço de subversão é um terreno fértil para a política queer, que não busca apenas “aceitação”, mas a desnaturalização das normas que governam nossos corpos e desejos.
Nos anos 2000, Butler ampliou seu foco para a violência estrutural, a guerra, a vulnerabilidade dos corpos, especialmente os corpos racializados, LGBTQIA+, refugiados e marginalizados.
Ela propõe uma ética da precariedade compartilhada, onde o reconhecimento da nossa interdependência nos obriga a repensar as bases da justiça, do luto e da dignidade.
Judith Butler é uma das figuras centrais da teoria queer, mas sua influência vai além:
Fundou o campo dos estudos pós-identitários, onde as categorias fixas (como “homem”, “mulher”, “hetero”, “gay”) são criticadas como limitantes.
Sua crítica ao binarismo é usada na pedagogia crítica, nas políticas de diversidade, e nos movimentos trans e não-binários.
Participa ativamente de causas políticas, como os direitos LGBTQIA+, o anticolonialismo, e a resistência à violência estatal e militarizada.
Como todo pensador ousado, Butler também foi alvo de críticas:
Algumas feministas radicais a acusam de desfocar a luta das mulheres, ao negar a categoria “mulher” como essencial.
Seus textos são conhecidos por serem densos, com linguagem complexa e altamente teórica.
No entanto, essa complexidade reflete a profundidade de suas questões, e sua obra se tornou fundamental para qualquer reflexão crítica sobre identidade, corpo, poder e resistência.
Judith Butler nos provoca a desconfiar de tudo aquilo que parece “natural”. Seu pensamento é um convite ao desmonte das estruturas invisíveis que moldam nossas vidas, nossos corpos, nossos desejos e nossos destinos. Uma filosofia viva, incômoda e necessária — sobretudo para quem busca entender o que somos em um mundo que tenta nos encaixar o tempo todo.
“A subversão das normas é o caminho da liberdade.”