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Nascido em uma das famílias mais ricas e culturalmente refinadas do Império Austro-Húngaro, Ludwig Wittgenstein foi um filósofo da linguagem, da mente e da lógica — um dos poucos pensadores que marcaram profundamente dois momentos distintos da filosofia contemporânea: o positivismo lógico e a virada pragmática-linguística.
Embora tenha publicado apenas um livro em vida (Tractatus Logico-Philosophicus), seu pensamento foi revolucionário, tanto em sua fase inicial quanto na tardia, ambas com visões quase opostas sobre linguagem, significado e filosofia.
Nesta obra influenciada por Frege, Russell e a lógica matemática, Wittgenstein buscava fundamentar a linguagem e o mundo numa estrutura lógica comum.
Seus pontos centrais:
A linguagem representa o mundo através de “figuras” lógicas.
O mundo é formado por fatos, não por coisas.
A filosofia deve “mostrar” o que não pode ser dito logicamente, e então deve “calar-se”.
“Sobre aquilo de que não se pode falar, deve-se calar.”
Essa visão influenciou o Círculo de Viena e o movimento do positivismo lógico, que buscava eliminar da filosofia toda afirmação sem base empírica ou lógica formal.
Wittgenstein rompe radicalmente com sua própria obra anterior. Agora, ele via a linguagem como um conjunto de “jogos de linguagem”, com significados diversos que surgem do uso em contextos sociais.
Pontos-chave:
O significado das palavras está no uso que se faz delas.
Não há essência universal na linguagem.
A filosofia deve desfazer confusões causadas pelo mau uso das palavras.
“Filosofar é libertar a mente dos nós que a linguagem cria.”
Essa virada inspirou todo o campo da filosofia da linguagem ordinária e influenciou pensadores como J. L. Austin, Gilbert Ryle e a tradição pragmatista.
Linguagem como forma de vida: a linguagem só faz sentido dentro de um contexto de práticas humanas.
Crítica à metafísica tradicional: muitos problemas filosóficos são pseudo-problemas causados por abusos da linguagem.
Limites do pensamento racional: há aspectos da vida (ética, estética, espiritualidade) que não podem ser reduzidos a proposições lógicas.
Tractatus Logico-Philosophicus (1921)
– Estrutura lógica da linguagem e do mundo. Obra da fase inicial.
Investigações Filosóficas (1953, póstuma)
– Crítica ao Tractatus e à ideia de linguagem formal.
Cadernos Azul e Castanho (póstumos)
– Textos de transição entre as duas fases.
Sobre a Certeza, Zettel, Observações Filosóficas
– Escritos diversos que revelam a riqueza e ambiguidade de seu pensamento tardio.
Embora se recusasse a falar de teologia ou religião de forma dogmática, Wittgenstein tinha um profundo interesse por questões éticas e espirituais. Ele valorizava o silêncio, o indizível, o místico — e dizia que os valores verdadeiros não podem ser expressos por proposições, mas apenas mostrados pela vida.
“O sentido do mundo está fora do mundo.”
Wittgenstein era intensamente introspectivo, solitário, rigoroso com a própria vida e com seus alunos. Abandonou a herança da família, viveu como professor rural, serviu como soldado na Primeira Guerra e recusava toda forma de fama ou comodidade.
Era radical: não queria apenas pensar a verdade — queria vivê-la.
Wittgenstein é o filósofo do desconforto intelectual. Ele nos obriga a desconfiar da própria filosofia, a observar a linguagem com cuidado quase místico e a entender que nem tudo que importa pode ser dito.
Se a filosofia é uma corda esticada entre o silêncio e o sentido, Wittgenstein caminhou por ela com os olhos bem abertos — e a alma em chamas.