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George Edward Moore, conhecido como G.E. Moore, foi um filósofo britânico fundamental na fundação da tradição analítica na filosofia contemporânea. Ele é lembrado tanto por sua influência sobre pensadores como Bertrand Russell, Wittgenstein e os lógicos do Círculo de Viena, quanto por sua defesa corajosa do realismo filosófico e da ética do senso comum.
Enquanto muitos de seus contemporâneos mergulhavam em especulações idealistas ou existenciais, Moore manteve-se firme no terreno da linguagem clara, dos argumentos bem estruturados e de uma profunda confiança na capacidade da razão de analisar o significado das palavras e as bases da moralidade.
A obra mais conhecida de Moore é “Princípios da Ética” (Principia Ethica, 1903), onde ele introduz a noção de:
Moore argumenta que é um erro tentar definir o conceito de “bem” com base em propriedades naturais (como “prazer”, “útil” ou “desejado”). Isso seria cometer uma falácia naturalista.
Segundo ele, “bem” é indefinível – uma propriedade simples, não redutível a qualquer outra.
“O bem é uma propriedade simples e não pode ser analisado.”
Moore propõe que, ao tentar definir o “bem”, sempre podemos perguntar:
“Mas isso é realmente bom?”
Se a pergunta ainda fizer sentido, então a definição falhou — pois o “bem” não se esgota no conceito proposto.
Moore também ficou famoso por sua defesa do senso comum. Num célebre ensaio, “Defesa do Senso Comum”, ele argumenta que certas coisas são mais certas do que qualquer teoria filosófica que as negue.
Seu exemplo clássico:
“Aqui está uma mão, e aqui está outra.”
Portanto, coisas externas existem.
Esse argumento — embora possa parecer trivial — foi uma crítica poderosa ao ceticismo radical, ao idealismo e ao solipsismo. Moore acreditava que crenças comuns e evidentes devem ser levadas a sério pela filosofia.
Moore inaugurou o estilo que viria a ser marca registrada da filosofia analítica:
Clareza conceitual
Análise minuciosa da linguagem
Argumentos baseados no senso comum
Rejeição de sistemas abstratos grandiosos
Ética não-naturalista: o bem é uma qualidade simples, que não pode ser reduzida a descrições factuais.
Realismo filosófico: há um mundo externo, e ele é mais certo do que qualquer argumento cético contra sua existência.
Senso comum: nossas crenças cotidianas devem ter peso contra teorias filosóficas sofisticadas que as contradizem.
Intuição moral: temos uma capacidade básica de reconhecer o bem, mesmo que ele não possa ser definido.
Principia Ethica (1903) – Crítica ao naturalismo moral e defesa do bem como uma propriedade simples.
Some Main Problems of Philosophy (1953) – Discussões sobre o conhecimento, percepção e a realidade externa.
Ensaios como The Refutation of Idealism (1903) e A Defence of Common Sense (1925).
Moore influenciou diretamente Bertrand Russell, com quem trabalhou lado a lado em Cambridge, e inspirou a virada analítica da filosofia anglófona. Seu rigor argumentativo e sua busca por clareza ajudaram a moldar o estilo filosófico do século XX.
Apesar de discreto em personalidade, foi uma figura admirada por gerações de estudantes — incluindo Wittgenstein, que o respeitava profundamente, mesmo discordando de suas ideias.
G.E. Moore nos lembra de que as maiores verdades filosóficas podem estar diante de nossos olhos — e que não devemos negligenciar a clareza, a honestidade intelectual e a solidez das crenças cotidianas.
Num mundo cada vez mais relativista, complexo e confuso, a simplicidade radical de Moore se apresenta como um ato de coragem filosófica.