Lábios da Sabedoria

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“A questão do Ser é a mais fundamental e mais esquecida da filosofia.”

Quem foi Martin Heidegger?

Martin Heidegger nasceu em Messkirch, na Alemanha, e revolucionou a filosofia contemporânea com uma proposta radical: recolocar a pergunta pelo Ser no centro do pensamento. Discípulo de Husserl, rompeu com a fenomenologia transcendental para desenvolver uma ontologia fundamental que influenciaria toda a filosofia posterior — da hermenêutica à desconstrução, da teologia à psicologia, da política à arte.

Sua Obra Fundamental: Ser e Tempo (1927)

Em Sein und Zeit (Ser e Tempo), Heidegger apresenta o conceito de Dasein (“ser-aí”), uma forma singular de ser que define a existência humana. O Dasein não é apenas um sujeito pensante, mas um ser que está lançado no mundo, no tempo, na angústia e na finitude.

Elementos-chave:

  • Ser-no-mundo: o ser humano não é um observador externo, mas um ente imerso em um mundo de relações.

  • Cuidado (Sorge): o modo fundamental do Dasein existir.

  • Ser-para-a-morte: a consciência da finitude estrutura toda a existência.

  • Autenticidade vs. Inautenticidade: viver de forma própria ou segundo o que “os outros” dizem.

  • Angústia (Angst): revela o nada e liberta o Dasein da banalidade do cotidiano.

A Ontologia Fundamental

Heidegger denuncia o esquecimento do Ser pela tradição filosófica. Desde Platão, a filosofia teria se concentrado nos entes (coisas que existem), esquecendo-se de perguntar o que é o Ser em si. A missão da filosofia seria, portanto, reabrir essa pergunta.

Para isso, ele se afasta da linguagem lógica e científica, buscando um modo mais originário de pensar — inspirado muitas vezes na poesia, na linguagem cotidiana e na tradição grega arcaica.

A Virada (Kehre) e o Pensamento Tardio

Após Ser e Tempo, Heidegger passa por uma “virada” em sua filosofia, abandonando a análise do Dasein e voltando-se ao próprio Ser como acontecimento histórico. A linguagem passa a ser “a casa do Ser”, e a poesia, especialmente a de Hölderlin, se torna o lugar privilegiado de abertura do Ser.

Ele também critica o tecnicismo da modernidade, que reduz tudo a recursos, perdendo o sentido do ser das coisas.

Polêmicas: Nazismo e Silêncio

Heidegger filiou-se ao partido nazista em 1933, durante seu reitorado na Universidade de Freiburg. Embora tenha se afastado politicamente depois, nunca se retratou publicamente. Seus escritos posteriores sugerem uma crítica ao niilismo moderno e ao totalitarismo técnico, mas seu envolvimento com o nazismo permanece uma mancha ética e filosófica em sua trajetória.

O debate sobre sua responsabilidade moral permanece até hoje, levantando a questão da separação entre obra e autor.

Obras Principais

  • Ser e Tempo (1927)

  • Carta sobre o Humanismo (1947)

  • A Caminho da Linguagem (1959)

  • Introdução à Metafísica (1953)

  • A Origem da Obra de Arte (1935–36)

  • Contribuições à Filosofia (Do Evento) (1936–38, publicado postumamente)

Frases Memoráveis

“A linguagem é a casa do Ser.”
“O homem habita poeticamente sobre a Terra.”
“A filosofia não tem outro fim senão manter aberta a questão do Ser.”
“A ciência não pensa.”

Influência e Legado

Heidegger é um dos pilares do pensamento contemporâneo. Influenciou:

  • Jean-Paul Sartre e o existencialismo

  • Hans-Georg Gadamer e a hermenêutica filosófica

  • Jacques Derrida e a desconstrução

  • Michel Foucault, Giorgio Agamben e o pensamento político

  • Teólogos como Rudolf Bultmann e Paul Tillich

  • Críticos da técnica e pensadores ecológicos

Sua filosofia exige uma transformação no modo de pensar, que não busca controlar ou dominar, mas ouvir, acolher, deixar ser.

No Lábios da Sabedoria

Heidegger nos convida a abandonar as certezas fáceis e retornar ao mais profundo: a pergunta esquecida sobre o Ser. Em tempos em que tudo é reduzido à utilidade, à produtividade ou à técnica, ele nos lembra que há um mistério na existência que escapa à lógica do controle — e que talvez a filosofia ainda tenha algo de sagrado: não no dogma, mas no silêncio atento diante do Ser.