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Martin Heidegger nasceu em Messkirch, na Alemanha, e revolucionou a filosofia contemporânea com uma proposta radical: recolocar a pergunta pelo Ser no centro do pensamento. Discípulo de Husserl, rompeu com a fenomenologia transcendental para desenvolver uma ontologia fundamental que influenciaria toda a filosofia posterior — da hermenêutica à desconstrução, da teologia à psicologia, da política à arte.
Em Sein und Zeit (Ser e Tempo), Heidegger apresenta o conceito de Dasein (“ser-aí”), uma forma singular de ser que define a existência humana. O Dasein não é apenas um sujeito pensante, mas um ser que está lançado no mundo, no tempo, na angústia e na finitude.
Ser-no-mundo: o ser humano não é um observador externo, mas um ente imerso em um mundo de relações.
Cuidado (Sorge): o modo fundamental do Dasein existir.
Ser-para-a-morte: a consciência da finitude estrutura toda a existência.
Autenticidade vs. Inautenticidade: viver de forma própria ou segundo o que “os outros” dizem.
Angústia (Angst): revela o nada e liberta o Dasein da banalidade do cotidiano.
Heidegger denuncia o esquecimento do Ser pela tradição filosófica. Desde Platão, a filosofia teria se concentrado nos entes (coisas que existem), esquecendo-se de perguntar o que é o Ser em si. A missão da filosofia seria, portanto, reabrir essa pergunta.
Para isso, ele se afasta da linguagem lógica e científica, buscando um modo mais originário de pensar — inspirado muitas vezes na poesia, na linguagem cotidiana e na tradição grega arcaica.
Após Ser e Tempo, Heidegger passa por uma “virada” em sua filosofia, abandonando a análise do Dasein e voltando-se ao próprio Ser como acontecimento histórico. A linguagem passa a ser “a casa do Ser”, e a poesia, especialmente a de Hölderlin, se torna o lugar privilegiado de abertura do Ser.
Ele também critica o tecnicismo da modernidade, que reduz tudo a recursos, perdendo o sentido do ser das coisas.
Heidegger filiou-se ao partido nazista em 1933, durante seu reitorado na Universidade de Freiburg. Embora tenha se afastado politicamente depois, nunca se retratou publicamente. Seus escritos posteriores sugerem uma crítica ao niilismo moderno e ao totalitarismo técnico, mas seu envolvimento com o nazismo permanece uma mancha ética e filosófica em sua trajetória.
O debate sobre sua responsabilidade moral permanece até hoje, levantando a questão da separação entre obra e autor.
Ser e Tempo (1927)
Carta sobre o Humanismo (1947)
A Caminho da Linguagem (1959)
Introdução à Metafísica (1953)
A Origem da Obra de Arte (1935–36)
Contribuições à Filosofia (Do Evento) (1936–38, publicado postumamente)
“A linguagem é a casa do Ser.”
“O homem habita poeticamente sobre a Terra.”
“A filosofia não tem outro fim senão manter aberta a questão do Ser.”
“A ciência não pensa.”
Heidegger é um dos pilares do pensamento contemporâneo. Influenciou:
Jean-Paul Sartre e o existencialismo
Hans-Georg Gadamer e a hermenêutica filosófica
Jacques Derrida e a desconstrução
Michel Foucault, Giorgio Agamben e o pensamento político
Teólogos como Rudolf Bultmann e Paul Tillich
Críticos da técnica e pensadores ecológicos
Sua filosofia exige uma transformação no modo de pensar, que não busca controlar ou dominar, mas ouvir, acolher, deixar ser.
Heidegger nos convida a abandonar as certezas fáceis e retornar ao mais profundo: a pergunta esquecida sobre o Ser. Em tempos em que tudo é reduzido à utilidade, à produtividade ou à técnica, ele nos lembra que há um mistério na existência que escapa à lógica do controle — e que talvez a filosofia ainda tenha algo de sagrado: não no dogma, mas no silêncio atento diante do Ser.