Lábios da Sabedoria

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“O absurdo nasce desse confronto entre o apelo humano e o silêncio irracional do mundo.”

Quem foi Albert Camus?

Albert Camus nasceu em Mondovi, na Argélia, então colônia francesa. Vindo de uma família pobre, enfrentou diversas dificuldades, mas teve acesso à educação e desenvolveu uma paixão precoce pela literatura e pela filosofia.

Camus foi romancista, dramaturgo, ensaísta, jornalista e filósofo, e embora tenha se relacionado com os existencialistas franceses, como Sartre, recusou esse rótulo, defendendo uma postura mais ética do que metafísica diante da vida.

Recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 1957, aos 44 anos — um dos mais jovens laureados da história. Morreu tragicamente em um acidente de carro em 1960, levando com ele manuscritos inéditos.

Principais Obras

  • O Estrangeiro (1942)

  • O Mito de Sísifo (1942)

  • A Peste (1947)

  • O Homem Revoltado (1951)

  • A Queda (1956)

  • Cartas a um Amigo Alemão

  • Calígula (teatro)

Núcleo do Pensamento: O Absurdo

  • A ideia central da filosofia de Camus é o absurdo: o conflito entre o desejo humano por sentido, clareza e ordem e o silêncio indiferente do universo.

    “O mundo em si não é razoável. É o que é. E o homem, confrontando-se com isso, sente-se estranho: um estrangeiro.”

    Esse sentimento de ruptura é o que ele chama de “o absurdo”. Diante disso, surge a pergunta: qual deve ser a resposta humana?

O Mito de Sísifo: A Lógica do Absurdo

No ensaio O Mito de Sísifo, Camus toma o personagem da mitologia grega — condenado pelos deuses a rolar uma pedra montanha acima, apenas para vê-la sempre rolar de volta — como símbolo da condição humana.

Sua conclusão é desafiadora:

“É preciso imaginar Sísifo feliz.”

Ou seja: mesmo diante da inutilidade e da repetição da existência, o ser humano pode afirmar a vida, sem apelar para ilusões ou religiões.

A filosofia de Camus é uma rebelião contra o niilismo, não uma submissão a ele.

Liberdade e Revolta

Em O Homem Revoltado, Camus investiga como o sentimento do absurdo pode levar o ser humano à revolta, e não à destruição. A revolta é um ato ético, uma recusa à injustiça, mas também uma afirmação da dignidade humana.

“Revoltar-se é afirmar que existe algo em nós que não se submete.”

Camus denuncia os totalitarismos (tanto de direita quanto de esquerda), os horrores do stalinismo, e insiste na importância da liberdade, da moderação e da solidariedade humana.

A Peste: alegoria e resistência

Em A Peste, Camus narra uma epidemia na cidade de Oran, que se torna metáfora de diversos males: o fascismo, a morte, a condição humana em estado de cerco.

A resposta do protagonista, Dr. Rieux, é agir contra a peste, mesmo sabendo que ela nunca será totalmente vencida.

“Há no homem mais coisas a admirar do que a desprezar.”

Camus propõe uma ética da resistência: agir, cuidar, lutar — mesmo sem garantias de vitória.

Um Estrangeiro no Mundo

O romance O Estrangeiro apresenta Meursault, personagem que vive de maneira indiferente, apática, sem se encaixar nos códigos morais da sociedade. Ao ser julgado por um assassinato, é condenado mais por sua falta de emoções do que por seu crime real.

O livro coloca em xeque os valores sociais, a religião e a hipocrisia moral, aprofundando a sensação de estranhamento — o absurdo.

Frases Memoráveis

“A liberdade não é nada mais que uma chance de ser melhor.”
“A grandeza do homem está em ele decidir ser mais forte que sua condição.”
“Não ser amado é apenas má sorte; não amar, isso sim é uma infelicidade.”
“O único problema filosófico realmente sério é o suicídio.”

Camus e Sartre: a ruptura

Camus e Sartre foram amigos e intelectuais influentes na França pós-guerra, mas romperam publicamente após Camus publicar O Homem Revoltado, criticando a justificativa da violência em nome da revolução.

Sartre considerou a crítica reacionária; Camus respondeu que a liberdade e a justiça não podem ser sacrificadas por nenhuma ideologia.

Essa ruptura mostra o compromisso radical de Camus com uma ética da lucidez e da não-violência.

Albert Camus no Lábios da Sabedoria

Camus é o filósofo da lucidez trágica. Ele não nos consola com promessas, mas nos oferece a coragem de viver com dignidade, mesmo sem certezas. Seu pensamento é um chamado à ação ética, à resistência e à beleza de uma existência consciente.

Ele não nos diz o que pensar — nos desafia a pensar mesmo quando o mundo cala.