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“O homem é a medida de todas as coisas.”

Quem foi Protágoras?

Protágoras nasceu por volta de 490 a.C. na cidade de Abdera, na Trácia (a mesma cidade de Demócrito), e viveu até cerca de 420 a.C.. É considerado o pai da sofística, um movimento intelectual que floresceu na Grécia durante o século V a.C., especialmente em Atenas.

Os sofistas eram professores itinerantes que ensinavam retórica, política, moral e argumentação em troca de pagamento — algo que escandalizou muitos filósofos tradicionais, como Sócrates e Platão.

Protágoras foi amigo e conselheiro de Péricles, estadista ateniense, e escreveu diversas obras, entre elas:

  • Sobre a Verdade (perdida)

  • Sobre os Deuses

  • As Antilogias

O homem como medida

A frase mais famosa de Protágoras resume o relativismo epistemológico e moral:

“O homem é a medida de todas as coisas — das que são, enquanto são; das que não são, enquanto não são.”

O que isso significa?

  • Não existe uma verdade objetiva universalmente válida.

  • O que é verdadeiro ou justo depende da percepção humana — individual, cultural, social.

  • A realidade é compreendida a partir do sujeito, não de uma essência eterna.

Protágoras antecipa aqui o que mais tarde será explorado por Nietzsche, Foucault e os pós-modernistas: o questionamento do absoluto e da autoridade do saber tradicional.

Antilogia e retórica

Protágoras também é conhecido por desenvolver o método das antilogias:

“Sobre qualquer assunto, há sempre dois discursos contrários.”

Isso implica que toda afirmação pode ser contestada por um argumento igualmente válido. Seu objetivo não era encontrar a verdade eterna, mas ensinar os cidadãos a argumentar bem, a persuadir — especialmente em tribunais e assembleias.

Dessa forma, ele inaugura a retórica como arte de poder político, essencial na democracia ateniense.

Sobre os deuses

Em sua obra Sobre os Deuses, Protágoras afirma:

“Quanto aos deuses, não posso saber se existem ou não, nem que forma têm; pois há muitos obstáculos ao saber: a obscuridade do tema e a brevidade da vida humana.”

Essa declaração foi vista como blasfema, e ele foi expulso de Atenas. Seus livros foram queimados em praça pública.

Protágoras, no entanto, não era um ateu, mas um agnóstico racionalista — um dos primeiros da história. Ele reconhece os limites do saber humano diante de temas metafísicos e propõe que nos concentremos no que é útil e mensurável para a vida humana.

Educação, política e ética

Protágoras acreditava que a virtude (aretê) pode ser ensinada. Para ele:

  • A moralidade não vem dos deuses, mas da educação e da convenção social.

  • A justiça, a lei e a convivência são construções humanas.

  • O cidadão é moldado pela paideía (formação cultural) — e por isso, os sofistas vendiam seu conhecimento: estavam formando os novos líderes da pólis.

Protágoras, nesse sentido, é democrático: acredita que todos os cidadãos são capazes de participar da vida pública, desde que bem instruídos.

A crítica de Sócrates e Platão

Protágoras aparece como personagem em um dos diálogos de Platão (Protágoras), onde debate com Sócrates. Para Platão, os sofistas:

  • Mercantilizavam o saber.

  • Relativizavam a verdade.

  • Tornavam a virtude algo manipulável.

Sócrates buscava a verdade universal, enquanto Protágoras ensinava a arte da persuasão. Esse conflito marca a ruptura entre a filosofia como busca do absoluto e a sofística como prática discursiva pragmática.

Legado

Apesar do preconceito que Platão lançou sobre os sofistas, Protágoras:

  • Foi precursor da pedagogia moderna, ao afirmar que a moral pode ser ensinada.

  • Antecipou o relativismo ético e cognitivo.

  • Abriu caminho para a reflexão sobre cultura, linguagem e poder.

Hoje, ele é estudado sob nova luz, não como “enganador”, mas como pensador crítico e formador de consciências — essencial para uma sociedade democrática.

Conclusão

Protágoras de Abdera nos desafia a olhar o mundo com olhos humanos, não divinos. A verdade, a justiça, o bem — tudo isso, segundo ele, é construção, não revelação. E por isso mesmo, devemos questionar, argumentar e formar consciências críticas.

Em um mundo cada vez mais polarizado, Protágoras nos convida a escutar os dois lados, a duvidar das certezas fáceis e a educar para o diálogo.

“O saber não deve ser imposto, mas despertado pela experiência e pela razão.”