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Anaxágoras (c. 500 a.C. – 428 a.C.) nasceu na cidade jônica de Clazômenas, na Ásia Menor (atual Turquia), e foi o primeiro filósofo a viver em Atenas, onde fundou uma escola e influenciou nomes como Péricles, Sócrates e Eurípides.
Mas sua filosofia ousada — especialmente ao afirmar que o Sol era uma pedra em chamas e que a Lua refletia luz — o levou à prisão por impiedade religiosa. Foi exilado em Lâmpsaco, onde morreu.
Anaxágoras rompe com as explicações mitológicas e introduz um conceito revolucionário na filosofia ocidental:
🧠 Nous (Νοῦς) — a Mente cósmica, inteligente, eterna e autônoma, responsável por dar ordem ao caos primordial.
Ele foi o primeiro a afirmar que a razão não é só humana, mas cósmica:
A mente organizadora do universo não é um deus antropomórfico, mas um princípio racional e eterno que põe tudo em movimento.
Antes da ação do Nous, o universo era uma mistura caótica de todas as substâncias, sem diferenciação.
Anaxágoras propôs que:
O mundo é feito de sementes ou “homeômeros” — partículas que contêm traços de todas as coisas.
Cada substância visível (carne, sangue, ouro, pedra…) é composta de partes mínimas e infinitamente divisíveis.
Nada nasce nem perece, apenas se transforma por separação e agregação.
“Em tudo há uma parte de tudo.”
“Nada vem do nada, tudo já está presente em estado latente.”
Essa ideia antecipa conceitos modernos de matéria, composição e transformação, e foi um contraponto direto ao pensamento de Empédocles e Parmênides.
O Nous é:
Infinito, sutil, puro e separado da matéria.
A única coisa que não está misturada com o resto.
A força que põe em movimento o universo e que permite a diferenciação das coisas.
Mas atenção: apesar de ser uma “mente” ordenadora, o Nous não é pessoal nem criador ex nihilo. Ele apenas age sobre o caos primordial, iniciando o movimento rotacional do universo e permitindo a formação dos corpos celestes, da Terra e da vida.
Anaxágoras foi também um dos primeiros pensadores a usar observações científicas para explicar fenômenos naturais. Entre suas ideias:
O Sol é uma massa incandescente maior que o Peloponeso.
A Lua é um corpo opaco que reflete a luz do Sol.
Os eclipses são fenômenos naturais, e não manifestações divinas.
Os meteoritos vêm do céu — ele próprio teria presenciado a queda de um deles em Egospótamos.
Essas afirmações chocaram profundamente a religiosidade popular da época e abriram caminho para uma nova maneira de investigar o mundo: racional, empírica e crítica.
A obra de Anaxágoras — chamada “Sobre a Natureza” — chegou até nós em fragmentos, mas sua influência é evidente em:
Platão, que usa o Nous em seu “Timeu”.
Aristóteles, que critica Anaxágoras por introduzir a Mente mas não a usar com consistência explicativa.
Filósofos estoicos e neoplatônicos, que reinterpretam o Nous como alma universal ou razão divina.
Seu pensamento não passou impune.
Por afirmar que os astros não eram deuses, Anaxágoras foi acusado de impiedade e forçado a deixar Atenas. Seu processo está relacionado ao clima político da época, especialmente à associação com Péricles, líder democrático que também foi alvo de ataques.
Ao ser exilado, fundou uma escola em Lâmpsaco, onde foi tão respeitado que, após sua morte, os habitantes celebravam um feriado anual em sua honra.
Anaxágoras foi o ponteiro que mudou o rumo do pensamento grego:
Trouxe a filosofia jônica para Atenas.
Inseriu a noção de uma mente ordenadora do universo — o Nous — que influenciaria toda a metafísica ocidental.
Antecipou ideias fundamentais da astronomia, física e biologia.
Introduziu uma visão mais naturalista e crítica do cosmos, combatendo o obscurantismo religioso de sua época.
Anaxágoras representa o momento em que a filosofia rompe com o mito e avança em direção à razão cósmica.
Ele olhou para os céus e ousou dizer que não eram deuses, mas matéria em movimento, ordenada por uma inteligência que transcende os sentidos — o Nous.