Portal do Aluno
“O Ser é, e o não-ser não é”
Parmênides de Eleia (c. 530 a.C. – 460 a.C.) foi um filósofo pré-socrático nascido em Eleia, uma cidade da Magna Grécia (atual sul da Itália). Fundador da Escola Eleática, Parmênides rompeu com a tradição dos filósofos da physis (como os jônicos) e propôs uma visão radicalmente nova: a realidade não muda.
Essa afirmação é tão contraintuitiva quanto genial. Parmênides é o pai da metafísica, aquele que colocou a razão pura acima das aparências e dos sentidos.
Sua principal (e única) obra conhecida é o poema filosófico “Sobre a Natureza”, do qual sobreviveram apenas fragmentos. Nele, Parmênides narra uma jornada mística, conduzido por uma deusa, que lhe revela dois caminhos:
O caminho da verdade (aletheia):
O Ser é, eterno, uno, imóvel, contínuo.
O pensamento verdadeiro deve seguir esse caminho — o da razão.
O caminho da opinião (doxa):
É o mundo dos sentidos, das aparências, da multiplicidade e da mudança.
Parmênides o rejeita como ilusório.
A tese central de Parmênides é ousada e profunda:
“O Ser é, e o não-ser não é.”
O Ser é tudo o que existe verdadeiramente.
O não-ser é o nada — e não pode ser pensado nem dito.
Se algo muda, então deixa de ser o que era e passa a ser outra coisa. Mas isso implicaria o “não-ser”, o que é impossível.
Portanto, o Ser é uno, eterno, imóvel, contínuo, não gerado e indestrutível.
A mudança, o tempo, o movimento, a multiplicidade — são ilusões dos sentidos.
Parmênides rompe com a confiança sensível que marcava os pensadores anteriores. Pela primeira vez, um filósofo exige coerência lógica absoluta.
A razão é a única via legítima para conhecer a realidade.
Essa atitude deu origem ao que hoje chamamos de ontologia — o estudo do Ser como Ser.
Fundada por Parmênides, a Escola Eleática teve como principais representantes:
Zenão de Eleia – famoso por seus paradoxos que defendem a impossibilidade do movimento.
Melisso de Samos – que ampliou os argumentos de Parmênides.
Essa escola foi essencial para desafiar os sentidos e consolidar a lógica como instrumento filosófico.
Parmênides e Heráclito são muitas vezes apresentados como opostos radicais:
Parmênides | Heráclito |
---|---|
O Ser é uno e imutável | Tudo flui, tudo muda |
A razão guia à verdade | O conflito guia à harmonia |
O movimento é ilusão | O movimento é essência |
Essa tensão entre imobilidade e mudança, unidade e devir, atravessará toda a história da filosofia — até Hegel, Nietzsche e além.
Influenciou fortemente Platão, especialmente o mundo das ideias como realidade eterna.
Antecipou a lógica formal, exigindo rigor absoluto no pensar.
Inspirou o desenvolvimento da metafísica aristotélica.
Sua ideia de uma realidade eterna, invisível e imutável influenciou tradições como o neoplatonismo, o hermetismo e correntes gnósticas.
Sua jornada iniciática à presença da Deusa remete a rituais de revelação e sabedoria esotérica.
“É preciso dizer e pensar que o ser é; pois o ser é, e o não-ser não é.”
“Nunca encontrarás o não-ser, pois ele não pode ser pensado.”
“O ser é ingênito, imperecível, total, imóvel e completo.”
O que é exatamente o Ser? É um conceito abstrato, metafísico? Ou uma experiência mística?
O poema é filosofia ou iniciação espiritual?
Seria Parmênides um místico racionalista?
Essas questões mantêm viva a chama de seu pensamento até hoje.
Parmênides de Eleia não buscou descrever o mundo — buscou o que está por trás dele.
Fechou os olhos aos sentidos para abrir a mente à eternidade.
Com ele, nasce o compromisso da filosofia com a verdade profunda, mesmo que ela contradiga a experiência comum.
Parmênides nos desafia a olhar além do que vemos e a pensar com rigor e coragem.