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Melisso de Samos (ativo por volta de 440 a.C.) foi um filósofo pré-socrático nascido na ilha grega de Samos, conhecido como o último grande defensor da Escola Eleática, ao lado de Parmênides e Zenão.
Além de filósofo, Melisso foi também estrategista e comandante naval, tendo liderado a frota samiana contra Atenas — uma figura curiosa que unia racionalidade extrema e pragmatismo militar.
Sua contribuição filosófica consiste em uma reformulação radical da ontologia eleática, levando as ideias de Parmênides às suas últimas consequências lógicas.
Sua obra, intitulada “Sobre o Ser ou sobre a Natureza”, chegou até nós em fragmentos conservados por Simplício, um comentador neoplatônico do século VI d.C.
Melisso procurou apresentar os argumentos de forma mais sistemática e racional, abandonando o estilo poético de Parmênides. É uma filosofia da razão pura, sem véus míticos ou simbólicos.
Melisso retoma e radicaliza a ontologia de Parmênides. Para ele:
Eterno: não nasceu nem pode morrer.
Uno: não há pluralidade.
Imutável: não pode mudar, pois mudança implica deixar de ser o que é.
Incorpóreo: não é um corpo físico.
Infinito: e aqui está sua grande inovação.
“O que não tem princípio nem fim, é ilimitado.”
Já Melisso rompe com isso, argumentando que o Ser deve ser infinito, porque:
Se fosse limitado, estaria “em” algo — e isso implicaria pluralidade.
Como não há nada fora do Ser, ele não pode ter fronteiras.
👉 Essa tese antecipa discussões modernas sobre o infinito, o contínuo e a totalidade do real.
Melisso é claro: os sentidos nos enganam. A multiplicidade, o tempo, o movimento — são ilusões da aparência.
Ele rejeita completamente a experiência sensível como fonte válida de conhecimento. A única via é a razão.
Assim como Parmênides e Zenão, Melisso proclama: só a razão vê o real.
Melisso emprega um estilo quase matemático:
Afirma que se algo muda, então o que é se torna o que não é — o que é impossível.
Se algo nasce, vem do não-ser — mas o não-ser não existe.
Logo, o Ser sempre foi, sempre será e não pode mudar.
Ele faz do Ser uma entidade total, eterna e absoluta — um verdadeiro monismo metafísico.
Elemento | Parmênides | Melisso |
---|---|---|
Forma da obra | Poética e simbólica | Prosa racional e lógica |
Limitação do Ser | Finito (como uma esfera) | Infinito (sem limites) |
Imagem do Ser | Imóvel, uno, eterno | Incorpóreo, infinito, eterno |
Estilo | Místico-racional | Lógico-dialético |
Antecipou ideias discutidas por Aristóteles, especialmente sobre o infinito.
Inspirou correntes monistas e absolutistas na história da metafísica.
Sua negação da multiplicidade ecoa no idealismo alemão e em vertentes da filosofia analítica.
A ideia de um Ser infinito e eterno toca profundamente concepções esotéricas do Uno, do Absoluto, do Tao ou do Ain Soph (na Cabala).
Sua recusa em aceitar a ilusão dos sentidos ecoa em tradições como o Advaita Vedanta e o Hermetismo.
“Se o Ser não nasceu e é eterno, então ele não tem limites. Pois tudo o que tem fim, tem limites.”
“O que é não muda, pois se mudasse, já não seria o que é.”
“O Ser é tudo. Nada está fora dele. Ele é completo e pleno.”
Porque ele nos obriga a confrontar a realidade mais profunda — não como a vemos, mas como ela deve ser pensada.
Porque sua filosofia é um laboratório lógico que desarma a superficialidade das certezas sensíveis.
Porque ele nos mostra um caminho para o pensamento absoluto — aquele que ousa dizer o indizível.
Melisso de Samos é o último bastião do Ser uno e eterno.
Em seu pensamento, o mundo se dissolve numa totalidade infinita e imutável — onde nada nasce, nada morre, e tudo simplesmente é.
Ele desafia nossa intuição, desmantela a confiança nos sentidos e exige uma fidelidade absoluta à razão.
Melisso é o filósofo do infinito sem fuga.