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Sexto Empírico foi um médico e filósofo grego que viveu provavelmente entre os séculos II e III d.C., durante o Império Romano. Seu nome “Empírico” está ligado à Escola Empírica da medicina, que valorizava a experiência direta em vez de teorias especulativas — postura que casa perfeitamente com o ceticismo que defendia.
Embora saibamos pouco sobre sua vida, suas obras são fundamentais para compreendermos o ceticismo pirrônico. Ele é a principal fonte textual da tradição iniciada por Pirro de Élis, que, por sua vez, não deixou nada escrito.
Duas obras chegaram até nós com segurança:
Esboços Pirrônicos (Pyrrhoneioi Hypotyposeis) – Em três livros, é a introdução mais acessível ao pensamento cético. Apresenta os fundamentos do ceticismo pirrônico, suas técnicas e objetivos.
Contra os Dogmáticos (Adversus Mathematicos) – Obra em onze livros, onde Sexto argumenta contra os que afirmam possuir conhecimento, abrangendo gramáticos, retóricos, geômetras, aritméticos, astrônomos, músicos, lógicos, físicos, moralistas e até dogmáticos da filosofia.
Ele combate todos que afirmam saber alguma coisa com certeza, oferecendo uma crítica sistemática e rigorosa aos fundamentos das doutrinas estabelecidas.
Sexto não busca criar um novo sistema filosófico, mas sim desconstruir a pretensão de certeza de todas as escolas anteriores. O objetivo não é destruir o pensamento, mas libertá-lo da prisão do dogma.
Baseando-se em Ainesidemo (cético anterior), Sexto apresenta dez modos (ou tropos) para alcançar a epoché (suspensão do juízo). Alguns exemplos:
Diferença entre os seres vivos – O que parece bom para um, pode ser ruim para outro.
Diferença entre os seres humanos – Percepções e crenças variam entre as pessoas.
Diferença nos sentidos – A visão, o olfato e o tato podem se contradizer.
Circunstâncias – O mesmo objeto parece diferente conforme o tempo, local, disposição.
Esses modos nos mostram que não temos como afirmar nada de forma absoluta, pois tudo depende de uma série de variáveis subjetivas.
Para Sexto, o ceticismo é uma terapia filosófica. O cético não é alguém que duvida por vaidade, mas alguém que busca libertar-se da angústia gerada pela busca insaciável por certezas.
Ao abandonar a crença em verdades absolutas, o filósofo cético alcança ataraxia: a serenidade profunda.
Diferente do dogmático que vive inquieto em busca da verdade ou do negador que afirma a impossibilidade do saber, o cético não afirma nada, nem mesmo que nada pode ser conhecido. Ele apenas observa a disputa dos argumentos e suspende o juízo.
A grande obra “Contra os Dogmáticos” expõe, com grande profundidade, as contradições internas das escolas filosóficas, científicas e religiosas do passado. Sexto não escreve com escárnio, mas com uma lógica rigorosa que leva seus oponentes ao impasse.
Alguns alvos de suas críticas:
Estoicos e sua crença na razão como guia infalível.
Epicuristas, com sua teoria da sensação como critério de verdade.
Acadêmicos, que afirmavam a impossibilidade do conhecimento — o que para Sexto já é uma forma de dogmatismo.
Sexto Empírico foi praticamente esquecido na Idade Média, mas redescoberto durante o Renascimento, especialmente a partir do século XVI, quando suas obras foram traduzidas e difundidas.
Filósofos influenciados por sua obra:
Michel de Montaigne – Que inseriu o ceticismo em sua crítica às certezas da razão e da fé.
David Hume – Que utilizou argumentos céticos contra a causalidade e a metafísica.
Immanuel Kant – Que viu no ceticismo uma ameaça a ser superada pela razão crítica.
Nietzsche, Wittgenstein e pós-modernos – Que incorporaram aspectos da dúvida e da desconfiança nas linguagens e sistemas.
Sexto nos oferece uma filosofia radicalmente antidogmática, voltada para o equilíbrio interior e a crítica contínua. Ele representa a consciência filosófica mais honesta: aquela que não teme reconhecer os próprios limites e que prefere o silêncio à mentira mascarada de certeza.
Em um mundo de vozes que gritam verdades absolutas, a voz de Sexto Empírico é a da calma que questiona tudo.
Em nosso site, Sexto Empírico é símbolo de que a sabedoria não está em possuir respostas definitivas, mas em cultivar o olhar que investiga, questiona e, ao final, encontra serenidade justamente na suspensão.