Lábios da Sabedoria

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“Nada mais do que os argumentos em disputa nos obrigam à suspensão do juízo.”

Quem foi Sexto Empírico?

Sexto Empírico foi um médico e filósofo grego que viveu provavelmente entre os séculos II e III d.C., durante o Império Romano. Seu nome “Empírico” está ligado à Escola Empírica da medicina, que valorizava a experiência direta em vez de teorias especulativas — postura que casa perfeitamente com o ceticismo que defendia.

Embora saibamos pouco sobre sua vida, suas obras são fundamentais para compreendermos o ceticismo pirrônico. Ele é a principal fonte textual da tradição iniciada por Pirro de Élis, que, por sua vez, não deixou nada escrito.

Suas Obras

Duas obras chegaram até nós com segurança:

  • Esboços Pirrônicos (Pyrrhoneioi Hypotyposeis) – Em três livros, é a introdução mais acessível ao pensamento cético. Apresenta os fundamentos do ceticismo pirrônico, suas técnicas e objetivos.

  • Contra os Dogmáticos (Adversus Mathematicos) – Obra em onze livros, onde Sexto argumenta contra os que afirmam possuir conhecimento, abrangendo gramáticos, retóricos, geômetras, aritméticos, astrônomos, músicos, lógicos, físicos, moralistas e até dogmáticos da filosofia.

Ele combate todos que afirmam saber alguma coisa com certeza, oferecendo uma crítica sistemática e rigorosa aos fundamentos das doutrinas estabelecidas.

A Estrutura do Pensamento Cético

Sexto não busca criar um novo sistema filosófico, mas sim desconstruir a pretensão de certeza de todas as escolas anteriores. O objetivo não é destruir o pensamento, mas libertá-lo da prisão do dogma.

Os Dez Modos da Suspensão do Juízo (Ainesidemo)

Baseando-se em Ainesidemo (cético anterior), Sexto apresenta dez modos (ou tropos) para alcançar a epoché (suspensão do juízo). Alguns exemplos:

  1. Diferença entre os seres vivos – O que parece bom para um, pode ser ruim para outro.

  2. Diferença entre os seres humanos – Percepções e crenças variam entre as pessoas.

  3. Diferença nos sentidos – A visão, o olfato e o tato podem se contradizer.

  4. Circunstâncias – O mesmo objeto parece diferente conforme o tempo, local, disposição.

Esses modos nos mostram que não temos como afirmar nada de forma absoluta, pois tudo depende de uma série de variáveis subjetivas.

O Objetivo: Ataraxia

Para Sexto, o ceticismo é uma terapia filosófica. O cético não é alguém que duvida por vaidade, mas alguém que busca libertar-se da angústia gerada pela busca insaciável por certezas.

Ao abandonar a crença em verdades absolutas, o filósofo cético alcança ataraxia: a serenidade profunda.

Diferente do dogmático que vive inquieto em busca da verdade ou do negador que afirma a impossibilidade do saber, o cético não afirma nada, nem mesmo que nada pode ser conhecido. Ele apenas observa a disputa dos argumentos e suspende o juízo.

Contra os Dogmáticos

A grande obra “Contra os Dogmáticos” expõe, com grande profundidade, as contradições internas das escolas filosóficas, científicas e religiosas do passado. Sexto não escreve com escárnio, mas com uma lógica rigorosa que leva seus oponentes ao impasse.

Alguns alvos de suas críticas:

  • Estoicos e sua crença na razão como guia infalível.

  • Epicuristas, com sua teoria da sensação como critério de verdade.

  • Acadêmicos, que afirmavam a impossibilidade do conhecimento — o que para Sexto já é uma forma de dogmatismo.

Influência na Filosofia Ocidental

Sexto Empírico foi praticamente esquecido na Idade Média, mas redescoberto durante o Renascimento, especialmente a partir do século XVI, quando suas obras foram traduzidas e difundidas.

Filósofos influenciados por sua obra:

  • Michel de Montaigne – Que inseriu o ceticismo em sua crítica às certezas da razão e da fé.

  • David Hume – Que utilizou argumentos céticos contra a causalidade e a metafísica.

  • Immanuel Kant – Que viu no ceticismo uma ameaça a ser superada pela razão crítica.

  • Nietzsche, Wittgenstein e pós-modernos – Que incorporaram aspectos da dúvida e da desconfiança nas linguagens e sistemas.

O legado de Sexto Empírico

Sexto nos oferece uma filosofia radicalmente antidogmática, voltada para o equilíbrio interior e a crítica contínua. Ele representa a consciência filosófica mais honesta: aquela que não teme reconhecer os próprios limites e que prefere o silêncio à mentira mascarada de certeza.

Em um mundo de vozes que gritam verdades absolutas, a voz de Sexto Empírico é a da calma que questiona tudo.

No “Lábios da Sabedoria”

Em nosso site, Sexto Empírico é símbolo de que a sabedoria não está em possuir respostas definitivas, mas em cultivar o olhar que investiga, questiona e, ao final, encontra serenidade justamente na suspensão.