Lábios da Sabedoria

Portal do Aluno

"Nada sabemos, nem mesmo isso sabemos."

Quem foi Pirro?

Pirro nasceu na cidade de Élis, na Grécia, e é reconhecido como o fundador da escola cética na filosofia helenística. Acompanhou Alexandre, o Grande em sua expedição ao Oriente e entrou em contato com tradições filosóficas da Índia, especialmente com os sábios gimnosofistas e ascetas que podem ter influenciado profundamente sua visão de mundo.

Ao retornar à Grécia, Pirro começou a ensinar uma doutrina que rejeitava a possibilidade do conhecimento seguro, promovendo a suspensão do juízo (epoché) e a imperturbabilidade da alma (ataraxia).

Princípios do Ceticismo Pirrônico

A filosofia de Pirro não se propõe a construir um sistema, mas sim a desconstruir as certezas. Ela parte da observação de que as opiniões humanas são múltiplas, conflitantes e nenhuma delas pode ser provada de maneira definitiva.

 Três proposições básicas do pirronismo:

  1. As coisas são indeterminadas – Nada pode ser conhecido com certeza, nem mesmo as próprias percepções.

  2. Por isso, devemos suspender o juízo (epoché) – Diante da impossibilidade de afirmar ou negar qualquer coisa de forma absoluta.

  3. Essa suspensão leva à ataraxia – Um estado de paz e serenidade diante das incertezas do mundo.

Para Pirro, a sabedoria não consiste em saber, mas em não afirmar.

Influência oriental?

A convivência de Pirro com mestres orientais pode ter sido decisiva. Ele teria observado que os ascetas indianos viviam desapegados das paixões, das dores e dos bens materiais, mantendo-se serenos em todas as circunstâncias. Inspirado por esse exemplo, Pirro buscou uma forma filosófica de viver que fosse livre de perturbações.

Diferença entre Ceticismo Pirrônico e Sofismo

É importante distinguir o ceticismo de Pirro do relativismo dos sofistas:

  • Os sofistas diziam: “Tudo é relativo”.

  • Pirro dizia: “Não sabemos se tudo é relativo”.

A dúvida pirrônica não afirma nada, nem mesmo que se deve duvidar, e por isso é considerada mais radical. Ela é uma prática filosófica constante, que evita o dogmatismo em qualquer forma.

Pirro escreveu algo?

Pirro não deixou escritos. Sua doutrina foi registrada por seus discípulos, principalmente Tímon de Fliunte, que escreveu poemas satíricos chamados Silloi, onde zombava dos filósofos dogmáticos e exaltava o caminho da suspensão do juízo.

Séculos depois, o médico Sexto Empírico (séc. II d.C.) seria o grande sistematizador do ceticismo pirrônico, diferenciando-o do ceticismo acadêmico (vinculado à Academia platônica), que ainda mantinha algumas proposições.

Filosofia como prática de vida

Para Pirro, filosofar não era uma atividade teórica ou lógica, mas um modo de viver. O pirronismo é uma espécie de ascese intelectual, uma forma de alcançar a paz interior através da renúncia às certezas. Ele propunha:

  • Não dizer que as coisas são boas ou más por natureza.

  • Agir de acordo com os costumes, leis e sensações — mas sem acreditar que são absolutamente verdadeiros.

  • Ser indiferente às honras, às riquezas, à dor e à morte.

A ataraxia: liberdade na dúvida

No centro da doutrina está a ideia de que o sofrimento nasce do desejo de saber com certeza. Ao abandonarmos essa necessidade, tornamo-nos livres e imperturbáveis.

“Quem diz ‘eu sei’ está condenado a sofrer pelas expectativas.
Quem diz ‘não sei’ está livre.”