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O Confucionismo (ou Ruísmo) é uma tradição que mistura ética, filosofia política, pedagogia e espiritualidade secular. Ele nasceu na China do século VI a.C., em uma época de fragmentação e crise, e ofereceu uma resposta baseada na restauração da harmonia social por meio da moralidade pessoal.
Seu fundador, Kong Fuzi (Confúcio), não pretendia fundar uma religião. O que ele desejava era formar homens justos, governantes sábios e sociedades estáveis por meio da educação, do exemplo e do cultivo das virtudes.
Confúcio (551–479 a.C.) viveu em uma época conturbada, marcada pela decadência do sistema feudal e por guerras incessantes entre os estados chineses. Como um erudito errante, ele viajou de corte em corte tentando convencer governantes a seguir um modelo de governo baseado na virtude (de) em vez da força.
Sua vida foi marcada por fracassos políticos, mas seu legado cresceu como uma semente silenciosa. Seus ensinamentos foram compilados pelos discípulos na obra Analectos (Lunyu), que se tornou a espinha dorsal do pensamento confucionista.
“Governar é retificar nomes. Se os nomes estiverem corretos, a linguagem será coerente. Se a linguagem for coerente, os assuntos serão bem-sucedidos.”
O Confucionismo não fala de salvação pós-morte, mas de ordem neste mundo. Seu foco está no comportamento humano — especialmente no papel de cada um dentro da estrutura social e familiar.
Ren (仁) – humanidade, benevolência: a empatia como fundamento das relações humanas.
Li (礼) – rito, etiqueta, respeito à tradição: agir com decoro e reverência.
Yi (义) – retidão moral, justiça: fazer o certo mesmo que seja difícil.
Zhi (智) – sabedoria: discernir o que é adequado em cada situação.
Xin (信) – fidelidade, sinceridade: a coerência entre palavra e ação.
A sociedade ideal começa com a ordem na família, baseada em relações hierárquicas e harmoniosas:
Pai e filho
Marido e esposa
Irmão mais velho e mais novo
Governante e súdito
Amigo e amigo
Cada papel implica deveres e responsabilidades morais. A ética confucionista é relacional: ser virtuoso é agir bem nas relações que sustentam o tecido social.
Embora frequentemente visto como uma filosofia secular, o Confucionismo inclui um forte componente espiritual e ritualístico. Confúcio falava do Tian (Céu) como a ordem moral suprema que guia o destino dos homens. Não é um deus pessoal, mas uma força ética cósmica.
Além disso:
O culto aos ancestrais é essencial: eles não apenas merecem respeito, mas continuam exercendo influência moral no mundo.
Os ritos (li) são fundamentais: funerais, festividades, atos cívicos — tudo deve ser feito com solenidade e reverência, pois os ritos moldam a alma e refletem a ordem universal.
A partir da dinastia Han (206 a.C.–220 d.C.), o Confucionismo foi elevado ao status de ideologia oficial do Império Chinês. Isso teve consequências profundas:
A educação clássica se baseava na memorização e interpretação dos Cinco Clássicos (Shujing, Shijing, Yijing, Liji e Chunqiu).
Os exames imperiais exigiam domínio da doutrina confucionista, criando uma classe de letrados (os mandarins) que administrava o império.
A moral pública era medida segundo os padrões confucionistas, o que garantiu estabilidade por séculos, mas também rigidez e autoritarismo.
Durante a dinastia Tang e especialmente na dinastia Song (século X), o Confucionismo passou por um renascimento ao entrar em diálogo com o Budismo e o Taoismo. Isso deu origem ao chamado Neo-Confucionismo, uma forma mais especulativa e cosmológica da tradição, que incluía:
Reflexões metafísicas sobre a natureza do mundo e da mente (Li e Qi)
Práticas de meditação e autocultivo inspiradas no Chan (Zen)
Um modelo espiritual mais interiorizado e universal
No século XX, o Confucionismo foi violentamente atacado:
Durante a Revolução Cultural na China, templos foram destruídos e os confucionistas perseguidos.
Foi acusado de ser arcaico, patriarcal e repressivo, responsável pelo atraso chinês diante do Ocidente.
Porém, nas últimas décadas, há um renascimento confucionista, tanto acadêmico quanto político. O governo chinês, buscando uma identidade cultural autêntica, tem promovido o Confucionismo como base ética para a sociedade moderna.
O Confucionismo continua a influenciar profundamente países como China, Coreia do Sul, Japão, Vietnã e Taiwan. Seus valores de disciplina, respeito à hierarquia e importância da educação ainda moldam a mentalidade de milhões.
Contudo, ele também é alvo de críticas contemporâneas:
O patriarcalismo e a desigualdade de gênero
A rigidez hierárquica e o autoritarismo político
A desvalorização da criatividade individual em favor da conformidade
Mas ao mesmo tempo, muitos veem nele um antídoto contra o niilismo moderno: uma ética do dever, da dignidade e do serviço ao bem comum.
O Confucionismo não oferece milagres nem promete vida após a morte. Mas ensina algo mais raro: como viver com decência em um mundo desordenado. Para Confúcio, o que importa não é ser santo, mas ser íntegro. Não é dominar os outros, mas cultivar a si mesmo. E, assim, transformar o mundo — não pela força, mas pelo exemplo.