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O islamismo, também conhecido como Islã, é uma das três grandes religiões monoteístas do mundo, ao lado do judaísmo e do cristianismo. Surgido na Península Arábica no século VII, o Islã é, ao mesmo tempo, uma religião, um sistema jurídico, uma cosmovisão e uma civilização que moldou profundamente a história do Oriente Médio, do norte da África, da Ásia Central e de várias outras regiões. Seu início está intimamente ligado à figura de Maomé (Muhammad), considerado o último profeta da linhagem abraâmica.
Antes do surgimento do Islã, a Península Arábica era um mosaico de tribos politeístas, com exceções de comunidades judaicas e cristãs. Esse período é conhecido pelos muçulmanos como Jahiliyyah, ou “época da ignorância”. A religião predominante era o politeísmo tribal, com cultos centrados em divindades locais. A Caaba, em Meca, já era um centro de peregrinação, mas repleto de ídolos. A estrutura social era clânica, patriarcal e marcada por vendetas e alianças voláteis.
Por volta do ano 610, Maomé, um comerciante de Meca da tribo dos coraixitas, começou a relatar experiências espirituais intensas — visões e revelações que, segundo ele, eram transmitidas pelo anjo Gabriel. Essas mensagens, compiladas posteriormente no Alcorão (Qur’an), proclamavam a unicidade de Deus (Tawhid), a necessidade de submissão total a Ele (Islã) e a rejeição da idolatria.
Maomé pregava uma religião que unia fé, ética social, responsabilidade coletiva e esperança escatológica. Inicialmente rejeitado pelas elites de Meca, ele e seus seguidores foram perseguidos e forçados ao exílio em 622, migrando para Yathrib (Medina) — evento conhecido como Hégira, que marca o início do calendário islâmico.
Em Medina, Maomé não apenas fundou uma comunidade religiosa, mas também uma estrutura política e militar. O Islã tornou-se um poder em ascensão. Conflitos com Meca e outras tribos resultaram, eventualmente, na conquista pacífica de Meca em 630. Ao morrer em 632, Maomé havia unificado boa parte da Arábia sob a nova fé.
A sucessão de Maomé gerou tensões e divisões profundas que marcaram o Islã até hoje. Os quatro primeiros califas, conhecidos como Rashidun (bem guiados), lideraram uma expansão impressionante. Em poucas décadas, o Islã já se estendia da Península Ibérica até o Vale do Indo.
O núcleo da fé islâmica está nos chamados “Cinco Pilares do Islã”:
Shahada – A profissão de fé: “Não há divindade além de Deus, e Maomé é seu mensageiro.”
Salat – As cinco orações diárias.
Zakat – A caridade obrigatória.
Sawm – O jejum no mês do Ramadã.
Hajj – A peregrinação a Meca ao menos uma vez na vida, se possível.
O Alcorão é considerado pelos muçulmanos como a palavra literal de Deus. Além dele, a Suna — o conjunto de ditos e ações do profeta Maomé registrados nos Hadiths — orienta a prática religiosa e ética.
Após a morte de Maomé, divergências sobre a liderança da Ummah (comunidade islâmica) levaram à cisão entre:
Sunitas: maioria dos muçulmanos, reconhecem os califas como sucessores legítimos e baseiam-se na Suna.
Xiitas: defendem que apenas os descendentes de Ali, primo e genro de Maomé, seriam os líderes legítimos.
Além desses, existem outros grupos e escolas teológicas, como os sufis (místicos), os kharijitas e diversos movimentos reformistas e filosóficos ao longo da história.
Com o tempo, o Islã tornou-se a base de impérios poderosos, como os Omíadas, os Abássidas, os Fatímidas, os Otomanos, os Mamelucos e os Mogóis. A civilização islâmica contribuiu imensamente para as ciências, medicina, filosofia, arquitetura, literatura e matemática, especialmente entre os séculos VIII e XIII — o chamado “Século de Ouro Islâmico”.
Os muçulmanos medievais preservaram e traduziram obras gregas e romanas, desenvolvendo-as com originalidade. Figuras como Avicena (Ibn Sina), Averróis (Ibn Rushd) e Al-Ghazali marcaram o pensamento islâmico e influenciaram profundamente a escolástica europeia.
Atualmente, o Islã é seguido por cerca de dois bilhões de pessoas no mundo, com grande diversidade interna. Os debates contemporâneos incluem as relações com a modernidade, secularismo, direitos humanos, reforma do pensamento religioso e o papel da sharia (lei islâmica) nas sociedades muçulmanas.
O Islã também enfrenta estigmas e desafios externos, frequentemente vinculado ao terrorismo e ao radicalismo — distorções que não representam a pluralidade de experiências islâmicas. A geopolítica, as intervenções coloniais e o uso político da religião moldaram muitos dos conflitos atuais envolvendo países de maioria muçulmana.
O islamismo é, antes de tudo, uma religião de profundas raízes espirituais, históricas e civilizacionais. Sua origem marca uma ruptura e, ao mesmo tempo, uma continuidade com as tradições anteriores. Entendê-lo exige ir além de estereótipos e buscar nas suas origens, textos e práticas o fio que conecta bilhões de pessoas a uma fé que moldou — e continua moldando — o curso da história mundial.