Lábios da Sabedoria

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“Os limites da minha linguagem são os limites do meu mundo.”

Quem foi Ludwig Wittgenstein?

Nascido em uma das famílias mais ricas e culturalmente refinadas do Império Austro-Húngaro, Ludwig Wittgenstein foi um filósofo da linguagem, da mente e da lógica — um dos poucos pensadores que marcaram profundamente dois momentos distintos da filosofia contemporânea: o positivismo lógico e a virada pragmática-linguística.

Embora tenha publicado apenas um livro em vida (Tractatus Logico-Philosophicus), seu pensamento foi revolucionário, tanto em sua fase inicial quanto na tardia, ambas com visões quase opostas sobre linguagem, significado e filosofia.

As duas fases do pensamento de Wittgenstein

 1. Primeira fase: Tractatus Logico-Philosophicus (1921)

Nesta obra influenciada por Frege, Russell e a lógica matemática, Wittgenstein buscava fundamentar a linguagem e o mundo numa estrutura lógica comum.

Seus pontos centrais:

  • A linguagem representa o mundo através de “figuras” lógicas.

  • O mundo é formado por fatos, não por coisas.

  • A filosofia deve “mostrar” o que não pode ser dito logicamente, e então deve “calar-se”.

“Sobre aquilo de que não se pode falar, deve-se calar.”

Essa visão influenciou o Círculo de Viena e o movimento do positivismo lógico, que buscava eliminar da filosofia toda afirmação sem base empírica ou lógica formal.

 2. Segunda fase: Investigações Filosóficas (publicada postumamente em 1953)

Wittgenstein rompe radicalmente com sua própria obra anterior. Agora, ele via a linguagem como um conjunto de “jogos de linguagem”, com significados diversos que surgem do uso em contextos sociais.

Pontos-chave:

  • O significado das palavras está no uso que se faz delas.

  • Não há essência universal na linguagem.

  • A filosofia deve desfazer confusões causadas pelo mau uso das palavras.

“Filosofar é libertar a mente dos nós que a linguagem cria.”

Essa virada inspirou todo o campo da filosofia da linguagem ordinária e influenciou pensadores como J. L. Austin, Gilbert Ryle e a tradição pragmatista.

Temas centrais do pensamento de Wittgenstein

  • Linguagem como forma de vida: a linguagem só faz sentido dentro de um contexto de práticas humanas.

  • Crítica à metafísica tradicional: muitos problemas filosóficos são pseudo-problemas causados por abusos da linguagem.

  • Limites do pensamento racional: há aspectos da vida (ética, estética, espiritualidade) que não podem ser reduzidos a proposições lógicas.

Principais obras

  1. Tractatus Logico-Philosophicus (1921)
    – Estrutura lógica da linguagem e do mundo. Obra da fase inicial.

  2. Investigações Filosóficas (1953, póstuma)
    – Crítica ao Tractatus e à ideia de linguagem formal.

  3. Cadernos Azul e Castanho (póstumos)
    – Textos de transição entre as duas fases.

  4. Sobre a Certeza, Zettel, Observações Filosóficas
    – Escritos diversos que revelam a riqueza e ambiguidade de seu pensamento tardio.

Wittgenstein e a espiritualidade

Embora se recusasse a falar de teologia ou religião de forma dogmática, Wittgenstein tinha um profundo interesse por questões éticas e espirituais. Ele valorizava o silêncio, o indizível, o místico — e dizia que os valores verdadeiros não podem ser expressos por proposições, mas apenas mostrados pela vida.

“O sentido do mundo está fora do mundo.”

Vida pessoal e estilo

Wittgenstein era intensamente introspectivo, solitário, rigoroso com a própria vida e com seus alunos. Abandonou a herança da família, viveu como professor rural, serviu como soldado na Primeira Guerra e recusava toda forma de fama ou comodidade.

Era radical: não queria apenas pensar a verdade — queria vivê-la.

No Lábios da Sabedoria

Wittgenstein é o filósofo do desconforto intelectual. Ele nos obriga a desconfiar da própria filosofia, a observar a linguagem com cuidado quase místico e a entender que nem tudo que importa pode ser dito.

Se a filosofia é uma corda esticada entre o silêncio e o sentido, Wittgenstein caminhou por ela com os olhos bem abertos — e a alma em chamas.