Portal do Aluno
Nascido em Copenhague, na Dinamarca, Kierkegaard é frequentemente considerado o pai do existencialismo cristão. Seu pensamento se estrutura em torno da subjetividade, da fé, da liberdade e do que significa ser humano diante de si mesmo e de Deus.
Kierkegaard viveu uma vida marcada por conflitos interiores, escolhas radicais e solidão. Sua crítica à Igreja Luterana Estatal dinamarquesa, ao cristianismo de fachada, e à filosofia abstrata de Hegel o colocou à margem tanto do pensamento teológico dominante quanto da filosofia acadêmica.
Escreveu boa parte de sua obra sob pseudônimos, com estilos e abordagens diferentes, como forma de desdobrar as múltiplas possibilidades da existência.
Ou/Ou (1843)
Temor e Tremor (1843)
A Repetição (1843)
O Conceito de Angústia (1844)
As Migalhas Filosóficas (1844)
A Doença para a Morte (1849)
Prática do Cristianismo (1850)
Para Kierkegaard, a verdade não é apenas uma questão de fatos objetivos. A verdade mais profunda é a verdade subjetiva: a forma como o indivíduo se apropria da verdade com paixão.
A fé, o amor, o desespero, a escolha — não são temas tratados em terceira pessoa. São realidades vividas, experienciadas na carne.
Kierkegaard introduz na filosofia moderna o conceito de angústia como uma experiência fundamental da condição humana.
A angústia surge quando o indivíduo percebe que é livre para escolher, mas essa liberdade vem carregada de responsabilidade e incerteza. É a vertigem do possível, a consciência de que não há garantias absolutas.
Um dos seus conceitos mais famosos é o “salto da fé”: a ideia de que acreditar em Deus não é um ato racional, mas um salto no escuro, contra a razão, que exige coragem e paixão.
Ele usa a figura bíblica de Abraão, que quase sacrifica seu filho Isaac por obediência a Deus, para ilustrar essa fé paradoxal: ética e lógica não explicam esse ato — só a fé radical o sustenta.
A “doença para a morte” não é a morte física — é o desespero existencial, o não querer ser quem se é, a recusa de si mesmo.
Para Kierkegaard, o ser humano está em constante tensão entre:
Quem é agora, e
Quem deveria ser (diante de Deus, do mundo, de si mesmo).
Esse descompasso é a fonte do sofrimento espiritual.
Kierkegaard rejeita o idealismo absoluto de Hegel, que via a história como racional e progressiva.
Para ele, isso apaga a individualidade e transforma o ser humano em mero “momento do espírito”. Kierkegaard devolve a importância do indivíduo concreto, que escolhe, sofre, crê e se desespera.
Para Kierkegaard, o verdadeiro cristianismo é um escândalo. Não é segurança social nem moralidade burguesa. Crer em Jesus é abraçar o paradoxo: o eterno que entra no tempo, o Deus que se faz homem.
Ele combate o cristianismo oficial e institucionalizado, que anestesia a fé. Para ele, ser cristão é uma tarefa de vida inteira, marcada pelo sacrifício e pelo confronto com o absurdo.
“A vida só pode ser compreendida olhando-se para trás, mas só pode ser vivida olhando-se para frente.”
“O eu é uma relação que se relaciona consigo mesma.”
“A fé é precisamente esse paradoxo de existir em relação ao absoluto.”
“A angústia é o preço da liberdade.”
“Ser cristão é tornar-se contemporâneo de Cristo.”
Kierkegaard foi ignorado em vida e desprezado pelos teólogos e filósofos da sua época. Mas seu impacto explodiu no século XX, influenciando:
Filosofia existencialista: Nietzsche, Heidegger, Sartre
Psicologia e psicanálise: Carl Jung, Viktor Frankl
Teologia existencial: Karl Barth, Paul Tillich
Literatura: Kafka, Camus, Unamuno
Filosofia da religião e ética contemporânea
Kierkegaard nos convida a sair da zona de conforto da razão e da rotina para encarar o vazio do salto, a vertigem da liberdade e a responsabilidade do ser.
No Lábios da Sabedoria, ele representa o fogo da existência, o grito do indivíduo em meio às massas, o chamado à fé que não se curva à lógica — mas também não foge da dúvida.