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George Berkeley foi um filósofo e bispo anglicano irlandês, conhecido por desenvolver uma forma de idealismo radical, conhecida como imaterialismo. Para ele, a matéria não existe de forma independente: tudo que existe, existe na medida em que é percebido.
Filho do empirismo britânico, Berkeley parte da tradição de Locke, mas a leva a um extremo inesperado, eliminando a matéria como substância independente da mente. Foi uma figura polêmica e ousada, cujas ideias continuam a provocar tanto admiração quanto perplexidade.
Tratado sobre os Princípios do Conhecimento Humano (A Treatise Concerning the Principles of Human Knowledge, 1710)
Obra principal onde desenvolve sua teoria do imaterialismo.
Três Diálogos entre Hylas e Filonous (Three Dialogues between Hylas and Philonous, 1713)
Exposição acessível e dialógica de suas ideias filosóficas.
Alciphron, ou O Filósofo Menosprezado (1732)
Defesa do cristianismo frente ao ceticismo moderno.
Berkeley rejeita a ideia de matéria como substância autônoma. Segundo ele, as coisas existem apenas enquanto são percebidas por uma mente.
Não há objeto “material” por trás das ideias sensoriais.
Tudo o que experimentamos são percepções em nossas mentes.
O mundo não é composto de matéria, mas de ideias percebidas.
“As cadeiras, árvores e montanhas existem sim — mas apenas na mente.”
Berkeley não nega a existência do mundo, mas muda sua base ontológica: o mundo é mental, e não físico.
Berkeley critica a noção de ideias abstratas, usada por Locke e Descartes. Para ele, não é possível pensar em “corpo” sem forma ou “cor” sem objeto. Toda ideia é concreta e particular.
Se as coisas só existem quando são percebidas, como permanecem existindo quando não estamos olhando?
Berkeley resolve esse dilema afirmando que:
Deus é a Mente Suprema que percebe tudo continuamente.
As ideias do mundo estão em Deus, que garante a estabilidade e ordem da realidade.
Deus, portanto, sustenta a existência do mundo — e essa é sua ponte entre filosofia e teologia.
Berkeley acreditava que a noção de “matéria” levava ao ceticismo, ao ateísmo e à imoralidade. Ao negar a matéria e afirmar que tudo está na mente e em Deus, ele pretendia:
Defender a fé cristã de forma racional.
Combater o ceticismo que via emergir no iluminismo.
Mostrar que o mundo tem base espiritual e inteligível.
Apesar de ser ridicularizado por muitos contemporâneos, Berkeley influenciou:
A filosofia da percepção.
O idealismo alemão, especialmente Kant e Hegel.
A filosofia da linguagem moderna (com sua crítica às ideias abstratas).
O pensamento fenomenológico, ao antecipar a centralidade da experiência.
Hoje, Berkeley é cada vez mais revisitado pela filosofia da mente, neurociência e debates sobre realidade virtual e simulação — onde seu pensamento parece assustadoramente atual.
“A existência de uma coisa consiste em ser percebida.”
“A matéria é uma ficção filosófica — uma ideia sem sentido.”
“Negar a existência de matéria não é negar o mundo, mas redescobri-lo sob outra luz.”
Berkeley nos obriga a encarar uma pergunta perturbadora: “E se o mundo que vemos não estiver fora de nós, mas for parte de nossa mente?” Sua filosofia é um convite à humildade: o que tomamos por certo — como o chão sob nossos pés — pode ser apenas uma construção mental sustentada por algo maior que nós: o espírito e a mente divina.
É um chamado para desconfiar dos sentidos e redescobrir o mundo com olhos interiores.