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Averróis, ou Abu al-Walid Muhammad ibn Ahmad ibn Rushd, nasceu em Córdova, no al-Andalus (Espanha muçulmana), em uma época de brilho cultural ímpar. Era médico, jurista, astrônomo, teólogo e sobretudo filósofo. Sua missão era clara: reconciliar a razão com a fé, a filosofia com a revelação islâmica.
Foi um grande comentador das obras de Aristóteles — talvez o maior da história — a ponto de ser conhecido no Ocidente cristão como “O Comentador”, enquanto Aristóteles era simplesmente “O Filósofo”.
Uma resposta à crítica de Al-Ghazali à filosofia.
Averróis defende que a razão não é inimiga da fé, mas seu complemento superior.
Escreveu comentários extensos, médios e breves a praticamente toda a obra de Aristóteles.
Foi por meio de Averróis que Aristóteles retornou à Europa cristã, via traduções latinas e hebraicas.
Investiga a interpretação filosófica da Lei islâmica (Sharia).
Afirma que os textos religiosos devem ser lidos de forma simbólica por aqueles com preparo filosófico.
Averróis acreditava que a verdade é uma só, mas pode ser acessada de formas diferentes:
Através da revelação, para as massas.
Através da dialética, para os teólogos.
E através da demonstração racional (filosofia), para os sábios.
Para ele, nenhuma verdade filosófica pode contradizer a verdadeira religião — se há conflito, trata-se de uma má interpretação de um dos lados.
Inspirado por Aristóteles e Al-Farabi, Averróis defende a existência de um Intelecto Ativo Universal, compartilhado por todos. A alma humana individual não é imortal por si só, mas se une ao Intelecto Universal para participar da eternidade.
Essa tese gerou grande controvérsia e foi combatida pela ortodoxia islâmica e cristã.
A religião é necessária para a ordem social e moral.
A filosofia deve ser protegida e ensinada à elite preparada.
O governante ideal é aquele que conhece a filosofia e aplica a lei divina com sabedoria.
Ele ecoa a tradição do filósofo-rei platônico em um contexto islâmico.
Apesar de ter sido protegido por califas iluminados, Averróis acabou perseguido nos últimos anos de vida:
Suas obras foram banidas em partes do mundo islâmico.
Foi acusado de heresia e exilado em Lucena.
Após sua morte, foi parcialmente reabilitado, mas seu impacto floresceu mesmo fora do Islã, especialmente na Europa.
Suas ideias foram marginalizadas por séculos, superadas pela teologia ortodoxa asharita.
Traduzido para o latim, influenciou profundamente Tomás de Aquino, Siger de Brabant, os averroístas latinos e judeus como Maimônides.
Reacendeu o interesse por Aristóteles e abriu o caminho para o racionalismo medieval e renascentista.
Averróis representa o ápice do pensamento islâmico racionalista. Ele nos lembra que buscar a verdade é uma tarefa que exige coragem, rigor lógico e humildade diante do real. Em tempos de polarizações e dogmatismos, sua obra continua a ser uma ponte entre mundos — entre fé e razão, Oriente e Ocidente.
“O conhecimento é a luz que ilumina a escuridão da ignorância — e a filosofia é sua chama mais pura.”