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Guilherme de Ockham nasceu na Inglaterra, em Surrey, e foi um frade franciscano, teólogo e filósofo. Estudou e lecionou em Oxford, mas suas ideias acabaram por colocá-lo em conflito com a autoridade eclesiástica, especialmente com o papado. Foi excomungado e passou seus últimos anos sob a proteção do imperador Luís IV da Baviera.
Ockham se destacou por seu espírito crítico, sua defesa da autonomia da razão, sua oposição ao realismo platônico e sua busca por uma teologia e filosofia mais enxutas, mais racionais e próximas da experiência humana concreta.
Obra monumental sobre lógica e linguagem, onde estrutura os fundamentos de sua filosofia analítica.
Comentários sobre as Sentenças de Pedro Lombardo, onde apresenta sua teologia.
Diálogos políticos e teológicos onde critica a autoridade papal e defende o imperador.
Escritos contra o papa João XXII, onde articula sua teoria política da separação entre Igreja e Estado.
Seu princípio mais famoso diz:
“Entia non sunt multiplicanda praeter necessitatem”
(“Os entes não devem ser multiplicados além do necessário”)
Isso quer dizer: explicações mais simples, com menos suposições, devem ser preferidas.
Uma arma contra construções metafísicas desnecessárias, especialmente o realismo excessivo.
Ockham rejeita o realismo de Platão e Tomás de Aquino quanto aos universais.
Para ele, só os indivíduos existem de fato.
“Os universais são apenas nomes (nomina) — construções mentais úteis, mas sem existência fora da mente.”
Essa visão rompe com séculos de tradição metafísica e abre caminho para uma ontologia mais econômica.
Foi um dos primeiros a tratar da lógica formal como campo autônomo.
Desenvolveu uma teoria complexa da semântica dos termos mentais, distinguindo entre conceitos, palavras e coisas.
Antecipou ideias que seriam retomadas na lógica moderna e na filosofia analítica.
Para Ockham, a liberdade da vontade humana é radical:
“Deus não é obrigado pela lógica, e o ser humano é livre em um sentido absoluto.”
A moralidade depende da vontade divina, mas Deus poderia ordenar de outro modo — uma ética voluntarista até o limite da racionalidade.
Defensor feroz da separação entre poder espiritual e temporal.
A Igreja não deve controlar o Estado; o Papa não tem poder absoluto sobre os reis.
Isso marca um passo importante para o laicismo e para o pensamento político moderno.
Por criticar o papado e defender a liberdade do Império, foi excomungado.
Morreu fora da Igreja, mas foi reabilitado séculos depois.
Sua ousadia intelectual abriu caminho para a Reforma e o pensamento crítico moderno.
Considerado um precursor do empirismo e da ciência moderna.
Influenciou Lutero, Descartes, Hobbes e os empiristas britânicos.
Sua “Navalha” continua sendo uma das ferramentas centrais na ciência, filosofia e investigação crítica até hoje.
Guilherme de Ockham é um divisor de águas. Um pensador que nos lembra que quanto mais simples for uma explicação verdadeira, mais poderosa ela se torna. Sua recusa em aceitar verdades impingidas e sua fé na razão nos convocam ao pensamento livre e rigoroso.
“A simplicidade não é apenas uma estética do pensamento — é sua sobrevivência.”