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Anício Mânlio Torquato Severino Boécio, mais conhecido como Boécio, nasceu em Roma no final do século V, já sob domínio ostrogodo. Foi um aristocrata romano, senador, filósofo e teólogo. Tinha uma sólida formação clássica e um projeto ambicioso: traduzir e comentar todas as obras de Platão e Aristóteles, reconciliando suas filosofias.
Apesar de seu papel político na corte de Teodorico, rei dos ostrogodos, Boécio caiu em desgraça e foi preso, acusado de traição. Durante seu cativeiro, escreveu sua obra-prima: A Consolação da Filosofia. Pouco depois, foi executado.
Escrita na prisão, é uma das obras mais lidas da Idade Média.
Diálogo entre Boécio e uma figura alegórica da Filosofia, que aparece para confortá-lo diante da injustiça de sua prisão.
Explora temas como:
A natureza do destino e da fortuna.
O verdadeiro bem e a felicidade.
A relação entre livre-arbítrio e providência divina.
Escrita em forma de prosa e poesia (métrica clássica latina).
A Fortuna é retratada como uma deusa caprichosa, que gira sua roda arbitrariamente. O sábio, diz Boécio, busca um bem que não depende da sorte, do poder ou da riqueza: o bem da alma.
Traduziu e comentou parte do Organon de Aristóteles.
Escreveu tratados sobre categorias, silogismos, tópicos e proposições.
Sua obra lógica influenciou profundamente a Escolástica medieval.
Escreveu ainda tratados sobre a Trindade e a natureza de Cristo, buscando aplicar a lógica filosófica ao dogma cristão.
Fortuna: o acaso, a instabilidade da vida mundana.
Providência: plano eterno e racional de Deus.
Para Boécio, o universo não é caos, mas tem uma ordem oculta, acessível pela razão e sustentada por Deus.
A verdadeira felicidade não está nos bens materiais, mas na virtude e na contemplação do Bem Supremo.
O mal não tem poder real: só o bem é verdadeiramente eficaz.
O malvado já é punido por ser afastado da verdadeira felicidade, mesmo antes de qualquer julgamento externo.
Um dos primeiros a tentar conciliar liberdade humana com a onisciência divina.
Deus vê o tempo de forma atemporal: conhece nossos atos livres sem determiná-los.
Essa visão influenciaria profundamente Tomás de Aquino e outros escolásticos.
Último dos Romanos, primeiro dos Escolásticos: Boécio é a ponte entre a Antiguidade e a Idade Média.
Sua Consolação da Filosofia foi o livro mais lido da Idade Média depois da Bíblia, traduzido por grandes nomes como Alfredo, o Grande, e influenciador direto de Dante, Tomás de Aquino e Chaucer.
Suas traduções e comentários sobre lógica aristotélica moldaram o ensino medieval por séculos.
Boécio simboliza o poder da filosofia como refúgio diante da injustiça, da dor e do caos aparente. Sua obra é um testemunho da resistência da razão e da interioridade mesmo diante da morte.
“Não é o destino que governa o sábio, mas a sabedoria que o liberta do domínio da Fortuna.”