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Marco Túlio Cícero foi um filósofo, jurista, político, orador e escritor romano, considerado o maior estilista da prosa latina e um dos pensadores mais influentes da Antiguidade. Nascido em Arpino, no interior da Itália, foi um “homem novo” — isto é, o primeiro de sua família a atingir o consulado —, o cargo político mais elevado da República Romana.
Apesar de viver num tempo turbulento, em que a República estava em colapso diante das ambições de figuras como César e Pompeu, Cícero se destacou como defensor da república, da lei, da moral e da razão.
Cícero não é um filósofo no sentido grego do termo, ou seja, um criador de sistemas originais. Ele é, sobretudo, um intérprete e divulgador da filosofia grega para o mundo romano, sendo responsável por introduzir em latim termos e conceitos filosóficos fundamentais.
Em um momento de decadência política, Cícero recorre à filosofia como guia ética e política. Suas obras apresentam e adaptam as ideias do estoicismo, do platonismo, do aristotelismo e do ceticismo da Nova Academia.
Para Cícero, a filosofia não é uma especulação estéril, mas sim uma ferramenta de vida. Ela ensina a viver com sabedoria, a suportar a dor, a enfrentar o medo da morte e a conduzir a vida pública com retidão.
“Se tirarmos a filosofia da vida dos homens, desaparecerá não só a decência da vida, mas também a sociedade humana.”
Cícero é um dos fundadores do conceito de direito natural no Ocidente. Para ele, existe uma lei superior à lei dos homens, baseada na razão e na natureza. Essa lei natural é universal, imutável e deve ser a base da legislação positiva.
“Há uma verdadeira lei: a reta razão conforme à natureza. É universal, imutável e eterna.”
Cícero foi um republicano convicto. Para ele, o Estado ideal é aquele em que o poder é compartilhado entre os magistrados, o Senado e o povo — evitando tanto a tirania quanto a anarquia.
Em sua obra “Da República”, ele reflete sobre as formas de governo e elogia o modelo misto, em que os poderes se equilibram.
Influenciado pela Nova Academia (cética), Cícero defende uma posição probabilista: não podemos alcançar o conhecimento absoluto, mas podemos ter opiniões prováveis e razoáveis, suficientes para orientar a ação ética e política.
Cícero escreveu várias obras filosóficas em latim — muitas das quais em forma de diálogos inspirados em Platão — entre 45 a.C. e 43 a.C., após sua saída da vida pública.
“De Re Publica” (Da República) – Sobre o Estado ideal e a justiça.
“De Legibus” (Das Leis) – Complemento do anterior, trata da lei natural.
“De Officiis” (Dos Deveres) – Manual de ética prática: o dever para com os outros, o Estado e a si mesmo.
“Tusculanae Disputationes” (Tusculanas) – Sobre o medo da morte, dor, tristeza, paixões.
“De Natura Deorum” (Da Natureza dos Deuses) – Debate entre epicuristas, estóicos e acadêmicos sobre a teologia.
“De Finibus Bonorum et Malorum” (Dos Fins dos Bens e dos Males) – Discute as finalidades da vida moral.
Cícero viveu no fim da República Romana, enfrentando Guerras Civis, corrupção e o avanço do autoritarismo. Embora tenha sido um habilidoso orador e político, seus ideais o colocaram em conflito com Júlio César e, depois, com Marco Antônio.
Foi assassinado em 43 a.C. por ordem dos triunviros, sendo sua morte um símbolo da derrota da república frente ao império — e da fragilidade da razão diante da força.
Cícero moldou a tradição latina da filosofia e influenciou profundamente o pensamento medieval, renascentista e moderno. Sua ideia de direito natural foi central para:
Santo Agostinho
Tomás de Aquino
John Locke
Montesquieu
Os pensadores iluministas e fundadores das democracias modernas
Seu estilo e integridade intelectual também marcaram gerações de juristas, oradores e filósofos.
Cícero é o símbolo do filósofo que não se isola do mundo, mas mergulha nas questões mais urgentes de sua época com a razão como guia e a ética como escudo.