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Pirro nasceu na cidade de Élis, na Grécia, e é reconhecido como o fundador da escola cética na filosofia helenística. Acompanhou Alexandre, o Grande em sua expedição ao Oriente e entrou em contato com tradições filosóficas da Índia, especialmente com os sábios gimnosofistas e ascetas que podem ter influenciado profundamente sua visão de mundo.
Ao retornar à Grécia, Pirro começou a ensinar uma doutrina que rejeitava a possibilidade do conhecimento seguro, promovendo a suspensão do juízo (epoché) e a imperturbabilidade da alma (ataraxia).
A filosofia de Pirro não se propõe a construir um sistema, mas sim a desconstruir as certezas. Ela parte da observação de que as opiniões humanas são múltiplas, conflitantes e nenhuma delas pode ser provada de maneira definitiva.
As coisas são indeterminadas – Nada pode ser conhecido com certeza, nem mesmo as próprias percepções.
Por isso, devemos suspender o juízo (epoché) – Diante da impossibilidade de afirmar ou negar qualquer coisa de forma absoluta.
Essa suspensão leva à ataraxia – Um estado de paz e serenidade diante das incertezas do mundo.
Para Pirro, a sabedoria não consiste em saber, mas em não afirmar.
A convivência de Pirro com mestres orientais pode ter sido decisiva. Ele teria observado que os ascetas indianos viviam desapegados das paixões, das dores e dos bens materiais, mantendo-se serenos em todas as circunstâncias. Inspirado por esse exemplo, Pirro buscou uma forma filosófica de viver que fosse livre de perturbações.
É importante distinguir o ceticismo de Pirro do relativismo dos sofistas:
Os sofistas diziam: “Tudo é relativo”.
Pirro dizia: “Não sabemos se tudo é relativo”.
A dúvida pirrônica não afirma nada, nem mesmo que se deve duvidar, e por isso é considerada mais radical. Ela é uma prática filosófica constante, que evita o dogmatismo em qualquer forma.
Pirro não deixou escritos. Sua doutrina foi registrada por seus discípulos, principalmente Tímon de Fliunte, que escreveu poemas satíricos chamados Silloi, onde zombava dos filósofos dogmáticos e exaltava o caminho da suspensão do juízo.
Séculos depois, o médico Sexto Empírico (séc. II d.C.) seria o grande sistematizador do ceticismo pirrônico, diferenciando-o do ceticismo acadêmico (vinculado à Academia platônica), que ainda mantinha algumas proposições.
Para Pirro, filosofar não era uma atividade teórica ou lógica, mas um modo de viver. O pirronismo é uma espécie de ascese intelectual, uma forma de alcançar a paz interior através da renúncia às certezas. Ele propunha:
Não dizer que as coisas são boas ou más por natureza.
Agir de acordo com os costumes, leis e sensações — mas sem acreditar que são absolutamente verdadeiros.
Ser indiferente às honras, às riquezas, à dor e à morte.
No centro da doutrina está a ideia de que o sofrimento nasce do desejo de saber com certeza. Ao abandonarmos essa necessidade, tornamo-nos livres e imperturbáveis.
“Quem diz ‘eu sei’ está condenado a sofrer pelas expectativas.
Quem diz ‘não sei’ está livre.”