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Epicuro nasceu na ilha de Samos, no Mar Egeu, e mais tarde se estabeleceu em Atenas, onde fundou sua própria escola filosófica — o Jardim de Epicuro, célebre por aceitar mulheres, estrangeiros e até escravos, o que o diferenciava de outras escolas filosóficas do período.
Seu pensamento representou uma crítica poderosa ao medo, à superstição e à agitação da vida pública. Para Epicuro, a filosofia deveria servir para alcançar a felicidade e a paz da alma, e não se perder em especulações vazias.
Epicuro dividia a filosofia em três partes principais:
Canônica (lógica) – teoria do conhecimento.
Física – natureza do universo.
Ética – busca da felicidade através da ataraxia (paz de espírito) e da aponia (ausência de dor física).
Inspirado em Demócrito, Epicuro adotou uma visão atomista da realidade: tudo o que existe é composto de átomos e vazio. Contudo, diferentemente de seu predecessor, ele introduziu a ideia de que os átomos podem desviar-se espontaneamente em seu curso (o chamado “clinamen”). Isso permitia a existência do livre-arbítrio, negando o puro determinismo.
O universo é eterno e infinito.
Os deuses existem, mas não interferem no mundo humano.
A morte é a dissolução da alma; não há sofrimento após ela.
O medo da morte é irracional e deve ser superado.
Epicuro colocava a felicidade (eudaimonia) como o fim da vida. Mas não se tratava de um hedonismo vulgar. Ele distinguia entre tipos de prazeres:
Prazeres naturais e necessários (comida, abrigo, amizade): devem ser buscados.
Prazeres naturais e não necessários (luxos): podem ser aproveitados com moderação.
Prazeres não naturais nem necessários (glória, poder, riqueza): causam angústia e devem ser evitados.
A verdadeira felicidade é alcançada por meio da ataraxia (serenidade da alma) e aponia (ausência de dor).
“O prazer é o princípio e o fim da vida feliz.”
“Acostuma-te a crer que a morte nada é para nós.”
Epicuro valorizava profundamente a amizade, que considerava um dos maiores prazeres da vida. Seu ideal de vida era simples, autossuficiente, rodeado por amigos e longe das ambições públicas e dos conflitos políticos.
“De todas as coisas que a sabedoria oferece para tornar a vida completamente feliz, a maior de todas é a amizade.”
Muitas das obras de Epicuro se perderam, mas parte de sua filosofia chegou até nós por meio de:
“Carta a Meneceu” – resumo de sua ética.
“Carta a Heródoto” – resumo de sua física.
“Carta a Pítocles” – sobre fenômenos celestes.
Máximas e fragmentos preservados por autores como Diógenes Laércio.
Poema “De Rerum Natura” de Lucrécio (discípulo romano do epicurismo).
Durante séculos, Epicuro foi injustamente acusado de promover o hedonismo vulgar, como se pregasse a libertinagem. Na verdade, sua ética ensina moderação, racionalidade e serenidade, sendo mais próxima do ascetismo do que da permissividade.
Ele era mais “monge de jardim” do que “bon vivant”.
O pensamento de Epicuro influenciou:
O epicurismo romano (Lucrécio, Horácio).
O Iluminismo (Voltaire, Diderot).
A crítica moderna à religião e ao medo da morte.
O ceticismo contemporâneo e o pensamento ateu/agnóstico.
Filósofos como Nietzsche, Michel Onfray e Thomas Jefferson declararam admiração por Epicuro e seus ideais.
Em tempos de ansiedade, excesso de informações e hiperatividade, o epicurismo ressurge como um convite à pausa, à simplicidade e à liberdade interior. Seu pensamento atravessa séculos para nos lembrar que o verdadeiro prazer é:
“… viver escondido, entre amigos, cultivando o corpo e a alma em paz.”